Ah, tudo é gasto e servil como enredo de folhetim de vão de escada,
A sombra do amor, o cheiro a terra molhada,
Tudo o que escapa aos sentidos num café demorado num dia que não chove não se acende.
Calmo e distante, nas ruas semibreves observo o céu e imagino talvez o instante,
Talvez o cinema, o amor em fuga, os passos demorados,
O dia despido em cor já desbotada que remendo em suaves contradições que rói a paciência.
Não me entendo por vezes neste dia como metáfora da memória,
E o momento acontece em cada caso, o presente reinventa-se a seu belo prazer,
Passa sem dizer adeus ou bom dia porque ainda não cresci,
Ainda não,
Amanhã esqueço e começo e a brisa vem, cálida, segredar-me o mar,
Sem corpo, sem rasto, sem lume
E descubro-me na febre, no suor, no sorriso,
No rubor da face, na janela do prédio aberta,
No gesto, no abecedário cansado, no verso,
No meu regresso
Ao entardecer de luz que respira o meu cansaço.
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