quinta-feira, 26 de junho de 2014

Vício

A Sagração da Primavera,
A sagração do assassínio em tarde calma,
O combate cego de sentir a solidão em desenho de vida,
O meticuloso ardil, 
Pestanas de vigia
Numa rua abandonada com luzes e um gato escuro, estanque,
No edifício a doença veste o rosto contraplacado de nós,
Danças de corpos caídos,
As vestes engalanadas como prece ao demoníaco som de sangue, gota a gota,
Corre marginal por entre vidros, ossos de luz,
Uma grinalda de fumo,
Correntes espetadas em cruz,
O movimento é lento, espera,
A dança dos gatos a contraluz,
A sombra chinesa do azul,
Afectos da monotonia dolorida, encenada,
Este verso carnal que migra em todos os sentidos,
A força de uma ave no precipício,
Um choro no centro da ilusão,
Uma criança brinca com o tacto,
Embriagues de fios e telefones,
A cera dos ouvidos,
A viagem do ouvido,
A viagem de geração,
Ah, distraídos conquistamos a derrota
E alcançamos o vício,
A redoma que se faz em volta do silêncio
E as ondas são afogadas em delírio de eterno retorno.

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