É sempre esta madrugada de horror,
Não distingo os nomes das coisas,
A revolução faz-se com cravos de choro
Porque tudo mudou em prazeres mínimos
E o Abril é ainda confuso nesta ânsia de ser eterno,
Meus olhos, minha mão ao peito,
Sou português acanhado,
A liberdade não é inocência de conquista,
Dói-me os olhos,
O pranto dos pássaros mortos,
Evoco os tempos de sociedade, a abundância,
Carnes mortas pela Nação
Mães choram os filhos
Que foram gerados nas suas entranhas,
Dois corpos de amor.
Quantas lágrimas ainda por chorar,
O passado é um pranto,
Que futuro me está destinado?
Deito-me sobre decisões de doutores,
Este olhar que se perde como voo de gaivota,
A imensidão de surdez,
Abril não és honesto,
Já pensaram com cabeças lúcidas sobre o que é angústia de liberdade,
Um cão preso numa corrente?
Já pensaram no que é uma gota de chuva
Num dia de Verão na minha face cansada?
Santos, o diabo, paraíso e inferno,
Profetas, mendigos,
O que representa a liberdade?
E o rosto de Cristo está onde?
Desenhado num pacote de cereais que compramos num supermercado?
A liberdade é fé como ilusão de escravidão, uma mensagem?
A liberdade é uma ferida,
Um ato intelectual,
Um trespasse, uma escritura,
Um tempo, uma idade,
Uma morte anunciada.
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