sexta-feira, 15 de julho de 2011

Actor

Se eu desaparecesse para sempre
E não voltasse jamais,
Não sei, no presente, qual seria a minha reacção.
A existência,
O que eu sou e fui, numa cova aberta no chão.
E acabasse causa e efeito,
A aniquilação dos sentimentos,
Só carne morta,
O tempo e espaço sem contexto.
Nada, só a saudade e pesar aos restantes.

No presente,
Desejo o irrealizável, o bem estar,
O sono tranquilo e o leve acordar,
E com pássaros esvoaçantes, perto da janela, a chilrear.

A letargia dos dias é algo que se assemelha à morte física.
O mesmo deixar ir, o corpo vai, a mente acompanha,
Mas o que a mente pede o corpo não pode dar.

Quero que o espectáculo acabe,
Que se feche o pano,
E que se acabem as palmas,
Que vá tudo para casa,
Para os seus mundos de fantasia e cor,
Que eu não tenho nada a mostrar ou a dizer.
E eu acabe de vez o teatro,
A estúpida performance de divagação diletante
Em que sou actor sem pose ou amor próprio.

O teatro não é mau mas não me pertence
O actor que mostra gestos e palavras não sou eu,
O encenador não me soube representar,
E eu sempre à deriva hei-de ficar...

De que serve a arte quando tudo é pó e opaco?
Fica a sensação de desperdício,
Pois o belo não o é quando cá dentro tudo é solidão,
Sentimento que não obedece,
O riso desfalece,
O sonho desaparece.

Resta uma pessoa sem adereços,
Nu e sem nada a dizer,
Num espectáculo esgotado e ansioso por risos e choros.

Envergonhado, digo que não há espectáculo,
A medo digo que tudo não passa de uma fábula,
O actor sentiu-se mal e assim vai continuar,
Que saiam ordeiros para suas casas,
Que neste corpo geme a dor e não há qualquer sorriso,
Só permanecem a desilusão e o triste olvido.

Sem comentários: