domingo, 20 de abril de 2014

O Tempo

O tempo de nada serve
É um remendo de ócio,
Uma adaga cortando os pulsos
Como segredos de vida inteira
Nesta calma que de mim lateja.

O tempo gasta-se em horizonte,
Olhar o indizível,
Podridão de vestes andróginas,
Versos quotidianos
E um lento andar em volta
De algo que escuta
O que mais chora em mim.

Noites de memória branda
Em que desejo não se recorda,
Tudo em melancólico mistério,
Medo, pânico.

Eterno enigma temporal
De ter tempo fechado em muros,
Arbustos, pensamento rectilíneo,
Organizado, controlado,
Poeira, ventos de outrora,
Emigração celeste,
A calma desperdiçada
Em cadeiras do óbvio,
Ciências inesgotáveis, 
Vazias e um eterno jeito de tudo
Querer do meu peito
Abraçar, erguer e viver
Na mais ambicionante forma
De tudo voltar a perder.

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