domingo, 17 de maio de 2015

Como um Pente

Esqueci-me de me lembrar,
Nada que me busco sem memória,
Os olhos cegos como incêndios,
Estalactites imortais, compêndios de segredos e longura,
Caminhei nesta terra afogueado, desprendido como um pente,
A margem de dizer que existo sem miragem que recordo de mim,
Deserto oblíquo embebido em corpo santo,
Num terço de imagem de cruz,
O santo que dorme desperta em corpo que respira horas malditas,
O sombrio momento de amar
Que perco ao mergulhar na cidade como um pássaro que pressente
A dúvida de bico e penugem procriando a manhã de cinza e marfim,
Ainda na memória, ainda preso em personagens sem dinheiro,
Sem chapéus, sem colares, nuas, esperando
Ser hoje que não é,
Porque passado liga a memória de hoje com futuro que foi
E desligo o novo de hoje com o que esqueço todos os dias
Na esquina temporal de afecto, de arquitecto,
De zombie, de filme abjecto,
Um insecto, uma luz que respiro sem som,
Como sou três no segundo de ser único.

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