sexta-feira, 21 de março de 2008

Eu

Irreverência,
Retalho de eterna busca,
Labirintico querer.
Ser magoado que busca a eternidade.

O sono destroçado,
Cabeça em desalinho por tão cansado.
Dormência de sentir.
Forças vêm, forças vão,
Enjeitado de si mesmo.

Busco um nome próprio em vão,
Sei que esqueço estas frases,
Sou ser de um corpo que me deixou,
Fugiu de mim.
Quem sou desconheço.

A escrita invade-me neste quotidiano,
Deixo-a fluir tal como imagens que me ficaram
Ou palavras que me emprestaram.

Quem sou?
Definição sombria que se esgota no meu nome,
Mas não o escolhi.
Se pudesse inventava nomes,
Muletas de identidade,
Códigos de mensagens.

A minha verdadeira identidade?
Ninguém.
E se é pequena a definição
É minha,
E se quiseres dizer que sou alguem
Digo-te desta pobreza que é a minha condição.
Ninguém.
Haverá tal castigo ou orgulho ser ninguém?

E se me identifico com a injustiça ou se choro uma maldade
Não me peças sentimento,
Eu sou ninguém,
Não sinto tal como as outras pessoas.

terça-feira, 18 de março de 2008

Personagem

Falta-me tempo para ser feliz,
Tenho medo de ser quem fui,
E por mais que procure
Sei que sou o que sou, uma personagem.

Mais um dia desperdiçado em cogitações sonâmbulas.

A tua eloquência é pobre?
Mendiga?
Mendigarei a minha condição,
Só eu sei o que é a emoção.
Falarei com esperança,
Os meus olhos eternas janelas de virtude e de raiva.
O amor a eterna condição,
Mas só o vazio persiste no meu coração.

domingo, 16 de março de 2008

Sono

Um ser, uma miragem,
Uma voz perdida que me diz algo.

Debaixo da minha janela
Espreito a figura veloz.
Um momento solto, só estamos nós
Temporal bravio,
A figura esconde-se por debaixo de uma árvore.
Eu espreito a figura fugidia,
Sorrio ao ver que ali estaria mais confortável.
Sou ser livre, não gosto de amarras.

Uma bica, um cigarro,
Horas avançadas,
Concentro-me no meu trabalho,
A minha condição de fazer tempo para nada.

É sono, melancolia e cafeína a soluçar
Desta caneta, muleta de um corpo a latejar.
Encosto-me em suave letargia e deixo-me ir
Na precisa tinta de sonhos ainda por sentir.

O Amor

Recordo todo o meu passado em breves instantes
E fico circunspecto ao amor.
Se o senti, passou...
A memória estorva certos momentos,
A história passa, tal como todas as desilusões, actos falhados.
Faz cócegas no afecto?
Faz esquecer o dia a dia de rotina e tédio?

Poderia tecer considerações,
Cantigos de alma,
As ausências, o louvor,
A espera que desespera,
Frio na espinha.
Mas o que é?
Lembrança sentimental, valor?
A minha alma é a conta.
Factura elevada,
Não obedece a números, letras ou sermões.
A minha alma perturbada...
Quantas vezes fiz de conta,
Uma conta que não tem conta.
A alma pertence,
O corpo não,
O corpo não me pertence,
A alma, a solidão.
A conta, tantas vezes a conta afiada no meu coração...
Eu faço de conta, tantas vezes,
Outras contas por mim mesmo.
A escrita que me invade é a do sentimento,
Sentimento inconsequente,
Espelho que aponta a razão.

sábado, 15 de março de 2008

Retrato

O silêncio, a ausência de vozes tristes.
O mistério nocturno, esparso.
O som do sonho,
A amplidão do mar,
A côr do sangue,
A sofreguidão de não amar.

Lume brando em acendalha mortiça,
O meu corpo cansado,
Cabeça , corpo alvoraçados.
Lembro a solidão,
A janela ampla
Enredo, novelo, espelho
Janela solta,
Conquista.

O meu retrato?
A angústia de personagem num enredo fatalista,
Sombra de vontade,
A verdade da razão derrotista.