terça-feira, 2 de agosto de 2016

Neblina

Neblina cinza e mate, escuridão de lua,
Em cima de longe de olhos,
Alcançam o grito, o silêncio na margem da certeza de todos os dias,
É depressa este lento em que fico,
É sempre luz na margem do erro,
Há hoje um isqueiro e um cigarro diluídos num verso de whisky,
Numa chávena de café em solidão, rodeada de corpos de segredo,
Em trazer nulo o abraço lembrando o mundo de querer ser,
Ainda rasto de fósforo na planície desunida de Inverno de paz
Como Natal de príncipe áspero de orelhas surdas e ofegante no
Prenuncio de ler a face entediante de espelhos.

Quando Enfeitiçado

Fecho os olhos, eternos olhos,
Acendem o escuro, imagem distante, só eu,
Farejo sombras, desníveis e segredos, dúbias personagens,
Alçapões de alma que recordo,
Quando enfeitiçado, aceno de cor frente ao nada de presságio 
De ser enfim mais tempo que faço história de cordel
Ou apenas ninguém, sentimento, embaraço estático, estanque,
Uma melodia, olhos nus, neutros, soluços de dor,
O silêncio respira como uma fresta na janela do passado
E como humor ou amor a palavra deixa de significar
Quando tudo é uma serenata de mosaicos e apaziguar isto que rói
No problema rosto, no problema equação de cálculo sem resultado
Por se não inventar o inventário de sentido e semântica de números primos e o residual
E eterno conflito como a dor espiritual ou dor rupestre
De ainda anos que seguem o presente de se seguirem novos gestos,
Novos projectos ainda por avaliar por o real ainda não ser a solução deste tempo.

Nunca ser Fim

Num dia vermelho, escuro de endoidecer
Fui único sem mais sentir,
Ergui depois a palidez como um homem ergue a sua casa,
Neura, corpo breve de futuro e presente,
Nada que sonhe ou mesmo o sussurro, o presságio 
Me devolve a imensidão tranquila,
O afago de almofada, cru e só
De dormir a emoção, a pessoa,
Isto que transcende o espírito
Respirando a cor, a letra confusa,
A cidade presa no verso de rir a rude face
Como alma inquieta por ser nunca fim.

Tempo Incógnito

O tempo incógnito, incessante, tortuoso,
Mendigo de Sol e perfume de mar.
A solidão marginal como um resto de nada, 
Uma mancha no papel, a alegoria de gesto,
Fugir ao sentido, sentido de non-sense
Ou revelação mais perto de chegar ao fim,
Sempre presente, imanente de mim.
Na calma que pranteia o olhar, invulgar ilusão
De modo de ser sempre actual, quase inumano
E acessório como a face explícita do medo
Das sombras que iludem o concerto estival,
Concordato e real de significar apenas paz.

Apenas Suspeitar

A certeza é nula na emoção do momento,
Há sempre a infinita possibilidade de um ser outro
E como cálculo racional a escolha deriva de algo que não domino,
A mestria de talvez ser mentira mesmo sendo verdade,
A luz ser um quociente gasto na face diluída
De quando se grita um sentimento que se esconde
Como se multiplicassem palavras físicas, enredos que escapam,
A mão fugisse de corpo e sentir que a realidade é um parecer
Porque a manhã muda todos os dias,
Caminhamos assuntos na paz de novelo,
Arritmias no colchão como se a moral pedisse um segundo
De paz e o filme mudasse todos os cenários possíveis em frases de amor
Limite ou teias e insectos e beatas e palácios
Fossem a deixa de desalento de perder a forma lenta de apenas suspeitar.

Dizer Eternidade

A noite devassa do ser,
A máscara rude, o cair do pano cru e demente
Na incerteza de noite e dia,
Coroação de gritos anónimos na face despida,
A emoção de papel a animar o espírito
De cor sempre rubra e nunca perdida mesmo descrente,
A encenação ofegante e apaziguadora de luz,
Nunca digas que morri apenas sente o fervor que te dou,
Há mais caminhos, há outros mistérios, há magia
E o teatro é sempre amplo no cenário que empurra os corpos
A deslizar, suavemente, em busca de fogo,
De ser apenas pouco ou nada o que alcanço no momento de dizer eternidade.

Muralha de Alma

Para lá da muralha de alma
A ambição de luz,
Agita-se o vento ao passar, a erva molhada,
Um animal preso,
Um oceano de palavras que se estende ao fim de dias sem dor
Como se ao raiar do dia um sorriso de esperança abrigasse
No regaço materno cada lágrima, cada dor
Da estátua indefinida de todos os gestos,
Todos os desejos,
O som rente ao sabor da maré,
Um silêncio de morte, cruel de fantasia
Tal qual um circo de faz de conta
Ou um cavalo alado de papel.

Imagem de um Sentimento

A celebração do eterno adeus
Neste desaire de espírito de madrugada de fuga
Num acordar de conhecimento lento e sempre novo
No processo de mostrar o que é real
E o que sobeja de nós.
O Outono estival embriagado de rosas e musgo das paredes de silêncio
Faz-me feliz como algo que traduzo ao observar
As gentes, o mundo, isto que me rodeia e volteia como nunca esqueço
O que vivo e semeio e colho de magia impressa em mim.
Ainda os pássaros da juventude de cabelos esvoaçantes
Na luz de dança como caminhasse degrau em degrau
Na passagem da memória eterna
Que jaz em minha mão de areia,
No meu corpo diluído,
Na face de ouvidos, nariz despido
Nesta manhã de vento que cumprimento
Em suave deslumbramento a posição de união,
A posição que entra sem convite, ensimesmada e sempre actual
Ao riso fúnebre e tosco como imagem de um sentimento.