sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Emprestas-me a nuvem da tarde e penso que estou só,
O macio do silêncio envolve a pele e dramatizo o frio que interiorizo, feroz mas justo,
É pálido o assunto da multidão e sento-me na face das palavras como feiticeiro do grito.
A treva da felicidade ou a imensa plateia amestrada cega em planos de desigual sombra parada,
O muro, a estepe, a planta, o jogo, o rosnar da fera, o suave momento rente em frente da janela
Olhando a dança nua da luz que se esvai em cálidos versos de imagem que resvala ofegante junto do meu pensamento infantil e
Sempre ligado no cupido que acena aos desaires do espírito
Que materializa o sonho dormente de bafio de fim de noite como um segredo de chá de erva rasteira que enredado de passos 
Nus e olfacto de terra corpo ou par perdido em ondas de paixão que morre, sentir que afinal nada resta, apenas
Um retalho de memórias gastas em fim de época estival ou livro de presságios esquecido em uma qualquer rua da cidade.

Acalmia

Em sereno meditar de corpo, 
Na manhã de erguer o sonho do dia,
Embevecido de rastos ferozes de animais cruéis e soturnos,
Na ligeireza de momento estático e algo como calma e rancor ao mesmo tempo,
Dentro de assunto em equação alfabética de carne e espírito,
Na clareza enigmática de onda em relevo na minha pele,
No vago e nocturno trejeito imberbe e convalescente ruído de imagem que sopra ao ouvido o som que falta,
Enredo desertor, alvo em fuga,
Silêncio surdo e horizonte perdido,
A árvore de três cores no verso perdido e imaginado,
Em paleta de arma de arremesso ao trovador seminu na tarde que escurece
E encerra o capítulo de ultraje em semibreve acalmia.

Andar

Frenético e melancólico jeito de andar pelas ruas desertas de ócio 
No Inverno hesitante e irregular do nosso pensamento,
A face levantada no esforço de contemplar a paisagem que se despe
Aos passos trémulos, andrajosos e semibreves de emoção vaga em trova feita de silencioso desafio.
O processo como animal corpo e o uivo irracional, tosco e errático
Na manhã da alma que reside em objectos que se completam como um jogo.
A carne, o rasto, o faro, irritante astro do céu,
É macio o plano chão que caminho nas nuvens do papel pardo e surdo do momento de desfiguração,
Traz o ignorante sentido de dever, de missão cumprida no rosto
Ao aceno trocista, ao calmo e plácido desalinho do ócio,
De futurismo embevecido, do olfacto lento e um estranho riso corado em longos oceanos.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Enigma

É irreal a passagem ao ritmo,
As palavras abandonam-se como secreto delírio em céu ausente,
As horas passam lentas ou falsas como riso louco,
Quanto custa o enredo de perder simetrias de ousar o sonho,
Em trajetos de ironia ou simular a ciência fria de abandono,
Nisto que resta, o drama ou comédia, a ilustração,
O jornal lento, a janela dolente ao conteúdo que irradia luz
E conceitos como sombras ténues
Que decifram o código que faz a história
Como profetas em simbioses de luz,
De dizer isto ou aquilo ou algo esquecido
Que deciframos ao rasurar em muros de passar os olhos
Que rodeiam o quotidiano igual em falas de ombros embaciados
No cambiante de roupa e manhã igual a tantas outras
Como jogo enigma ou reconhecer a alma parada.

Ritual

O negro invade ao de leve a calma,
É pesado o festim, o horizonte, a nuvem,
Andrajoso clima de cimento e faces planas como riscos nas folhas de árvore,
Em breve a ciência de fugir, em breve somos nós a paisagem,
Descer o rio, sentir a tempestade, vestir o fato rasgado,
Fazer sinais em relevo nos lençóis da manhã,
Porque faz frio crescer e descrever e entontecer
E tudo cantado em pautas que não vemos
Pois estamos em união no tempo que se desfaz no grito.
Abrir a janela, ver com consoantes e vogais e pássaros de corda como sonho
Que embevecidos de maresia professamos nossa alegria de ritual diário.

Ao Vento

Ao vento, longe e perto,
Ofegante e sistemático como prado de ondas que param junto de mim,
Laivos de robustez e idiotia que foge rente aos pés,
Nada é infinito, nada pára o tempo e a casual fuga de sons milimétricos que cismam a união,
Mas entender o plano e a superfície e o acaso diminui a alma
E enredos e trâmites e carapaças e animais marinhos vêm aproximando-se mesmo lentos de rastos breves na pradaria do sonho,
Tentando o físico, a calma, a paciência e o enigma como plantas na varanda do espaço que abranda o ritmo,
Carros e fábricas, palavras simétricas e pesadas caem no lento café
E acende-se o sentir e a música imita ambientes de murmúrio e bafio semi-lento e estático como um barco perdido na memória,
Cálculo de sinais emigrantes de sentido que resmungam ao ouvido.

quarta-feira, 7 de março de 2018

Voar

Em pleno desejo de voar, de estender o corpo,
Erguer a estátua indizível ao suspiro de força animal,
Heis-me neutro e pluma ou irreal como sonho,
Toca-me o rasto, a passagem de ser outro,
Como um rio lento ou contraste de faces planas
Na paisagem que adormece no meu colo infantil,
É um manto de estrelas a maga superfície de ler,
Ainda o enredo de cetim manso e rente que escurece em cor escura feita de silêncios
Como reconhecer o faro que se distancia no mimetismo de cidade corpo
Ou alma trémula na sirene de planicie de afagos e palavras que se derretem em dor,
A pétala inicia o conforto e cheira a maresia a manhã,
O tempo morto enredo de segredos e falas mansas
Aprende o vício de mãos em pensamento de luz ténue
De sorrir ou evitar o chamamento de instintos mórbidos,
Tomar café e perder mãos agasalhadas em frio de tremer
Como fala estonteante, a cor rude de aprender a mudez.

Futuro

O futuro encarcerado em vozes e máscaras, em pele, nervos, sentidos, 
A visão de estudo rude, 
Processo em silêncio e mácula,
A treva irreal que encerra a peça em frenético desatino
Como um deslumbramento ou idiotia trivial, desencanto
Ou leitura de enganos, quando pouco ou muito se equivalem,
A subida na escala que cai no precipício,
A luxúria casual, a alma e seus vários planos,
Andar fugindo, fatigado de ventos e ferozes assuntos
Que calam a passagem do tempo, a fraqueza e a aspereza,
O conforto que dói, isto que nada acalma,
Resistir no conteúdo e dormindo na história, o jogo das palavras,
Contando gestos, a preguiça de acordar,
A idade que escapa, o acto ou desato,
O café que ainda lembro,
O Inverno que descubro lento ou teatral de crescer,
O toque na perna, o piano residual que ouço ao infinito de me perder,
O palco da palavra que conversa e o encantamento de ouvir a árvore e suas folhas por dentro,
A planície da descoberta,
Roupas a um canto do quarto ou convés e bafio,
O folclore diário, o riso e seus derivados, um grito, um copo na estrada, um baloiço,
Um drama ou folhetim ou a calma de evitar,
A ciência da escolha ou o momento neutro de casulo
Que encerra o capítulo de estudar olhos atentos num livro de almas
Que por vezes faz o corpo respirar ou perceber que nunca estamos sós
No início e fim de acabar.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

A Verdade

A verdade é um enigma que sempre racionalizamos.
Mas porém sempre fugimos dela,
Há um magnetismo compulsivo ou omnipresente ou convalescente que nos obriga a ocultar,
A transgredir ou mentir, pois as contradições são a face visível do ser.
Posso ler a mentira ou o sonho porque o registo cruel me obriga a isso,
Há ambição no oculto, no faz de conta
E por vezes a isso se chama arte.
Mesmo em código o processo é semelhante pois as imagens fundem-se nesta linguagem
E assim supomos ou percebemos ou filtramos a mensagem subliminar ou não no aspecto a que nos concerne,
A imagem veste adornos e é simbiótica no assunto,
Pois é ela que veste o sonho e nos deixa voar.
E a luz por vezes vem devagar soprar-me nos olhos entontecidos
E sussurra imagens de consolo ao acordar plano e desconcertante de uma noite em repouso,
Depois o mundo entra como cálculo ou artimanha ou sorridente ou sério,
Há temperamento nos assuntos e situações que enredam este acordar que se desembaraça
Ao longo do dia e veloz como uma pena ou algo lento sem entusiasmo.
Acendo imagens como registo ou corpos nus embevecidos na paz de si mesmos no mistérioso conhecimento
dos corpos lentos que se misturam e transfiguram
Na imagem que se decifra.
Há uma situação de desconhecimento face ao abismo, um calmo retorno ao silêncio que nunca acaba,
Há memórias, um suave cheiro de tabaco, um arrastamento na indústria do mimetismo ou
A improvável metáfora ou o sinal calado ou nada de novo.
Há muito por decifrar na solidão, uma mão que segura um objecto , uma crisálida,
A serena alma, um gesto de acaso, uma ambição de sucesso, um choro sem lágrimas,
O instante de jangada que movimenta o ser, a calma de cetim,
Resto desigual e nunca estático e mordaz no que não digo,
Porque nunca o real é a realidade ou a condição de existir
E a sombra nunca finda mesmo na noite dos sentidos.

Suspiro

Um suspiro, sentimento que esvoaça, 
Limite inventado de sonho que nasce dentro de um campo de Sol ao fim de nunca acabar.
Alvo ou traço na janela embaciada de frio,
Uma semana, um lamento, algo que se contradiz,
Embriagado de palavras, 
Recomeço ou final,
Por vezes virtual e uma frase áspera, ilusão e real, o que não sei dizer
E o faro que pressente algo rente no presságio, sempre faro.
Por vezes apago o corpo, por vezes o silêncio e o relógio esquemático
E o nada que apago ao som de metáfora.
A face sombria e plana das palavras lentas que rompem a alma ao limite inventado de luz.
Os dicionários mentem, alfabetos entornam letras caladas e dementes
E a pergunta no verso da moeda fechada, na árvore imaginária,
O abraço que rompe a voz e o grito na imagem que regressa em cada momento de paz das trevas sempre longe,
Sempre perto.

Mocho

Tentando a superfície, a manhã sonâmbola ou o céu azul,
A comparação de tactos rugosos em simetria,
Uma guitarra em fundo, uma voz calma e simétrica,
A alma ergue a torre do ser, faz frio no enredo,
Faz frio no entontecer, a magia desaparece e uns gatos vagueiam na rua.
Acordo nas letras discretas da passagem leve e frenética do som
Como perigo ou algo indecifrável, indefinível
Como incógnita esperança ou rasto de pássaro no ar macio,
Em breve distância, em breve aceno ao desaire,
O arco da voz, a residual mudança, um tempo de espera,
Assuntos e soluções,
O equinócio e porventura a praia
São a face do coro, a melodia de azul, a sirene alva, o sonho lúcido,
O regresso do mocho.

Acordes

São os acordes do amor que sopram ao de leve a melodia mágica,
Serenos e traiçoeiros como a emoção,
Enredados de trova ou faz de conta como larápios ou fascinantes pássaros,
Há sempre bebedeiras e gemidos, gestos franzidos, almas gastas, suores frios,
Há intriga e razões que mordem, uma farsa
E consequente enredo,
Mas a treva tudo desconstrói, os enigmas são soluços e o final uma evolução,
Não se acorda o silêncio, não se vê o medo ou não se escuta a tarde,
A praia sempre deserta e a dissertação do frio, do leito descomposto,
A árvore e o fogo, as mãos fogem do ritmo,
Os momentos resmungam, o corpo respira névoa,
A sombra é ténue e os passos segredam um trágico conforto,
A face do silêncio como palavra indecente e que nunca se aprende
Encerra a página do livro de sonho, o dilema nu de céu incandescente.

Resistência

Trovas disformes e intrusivas,
Momentos de fuga ou dispersão,
O barulho inútil, o gemido que afasta a calma, 
O rugido indecente, a nefasta putrefação,
A marcha enredada de vício, o latido demente,
O perfume rasgando o ar, a cálida lembrança,
A asa da luta arfando a um canto do corpo,
São ondas em bravo oceano,
As faces da alma, a cor breve e serena que dorme,
A influência sideral ou transcendente ou inumana,
Ou amplificação do nada no que resta de sentir como migalhas de pão,
A cobiça de nervos ou sobretudo acordar o dia
Respirando noite na montanha dos vales e rios,
No ritmo domesticado do vento
Que enredado no fado encadeia sua resistência.

Mente

Há um determinado estado ou sujeito lento e disforme
Na vasta lenga-lenga visual do tédio de rua,
Ritmo encasacado ou vasto e inútil
Como cor marfim no relevo semi plano do tempo.
A imagem consome o frio, a passos crus do costume
Que varia a tradição de mundo,
A margem escolhe o leito que cansado fico,
O Outono resvela em cadências inumanas, em tons pastel,
Em faces e mitos urbanos que bramem a invariável ironia real e passagem à cálida flor que nos chama,
O vento anuncia rastos e corpos sempre nus na paisagem do íntimo,
Em breve emudeço, em segredo a paz do cheiro da pele,
Se fico ou vou se hesito ou permaneço
É um ritmo desatento que enredado de palavras que murcham a simetria
Fazem a linha plana ondear no desnível sideral e corporal da mente.

Acabar

O futuro encarcerado em vozes e máscaras, em pele, nervos, sentidos, 
A visão de estudo rude, 
Processo em silêncio e mácula,
A treva irreal que encerra a peça em frenético desatino
Como um deslumbramento ou idiotia trivial, desencanto
Ou leitura de enganos, quando pouco ou muito se equivalem,
A subida na escala que cai no precipício,
A luxúria casual, a alma e seus vários planos,
Andar fugindo, fatigado de ventos e ferozes assuntos
Que calam a passagem do tempo, a fraqueza e a aspereza,
O conforto que dói, isto que nada acalma,
Resistir no conteúdo e dormindo na história, o jogo das palavras,
Contando gestos, a preguiça de acordar,
A idade que escapa, o acto ou desato,
O café que ainda lembro,
O Inverno que descubro lento ou teatral de crescer,
O toque na perna, o piano residual que ouço ao infinito de me perder,
O palco da palavra que conversa e o encantamento de ouvir a árvore e suas folhas por dentro,
A planície da descoberta,
Roupas a um canto do quarto ou convés e bafio,
O folclore diário, o riso e seus derivados, um grito, um copo na estrada, um baloiço,
Um drama ou folhetim ou a calma de evitar,
A ciência da escolha ou o momento neutro de casulo
Que encerra o capítulo de estudar olhos atentos num livro de almas
Que por vezes faz o corpo respirar ou perceber que nunca estamos sós
No início e fim de acabar.