segunda-feira, 25 de abril de 2011

Dor

Quando perdi a percepção da vida, da idade, de mim pouco sobrou.
Ausência de tudo e restos de dor que se arrasta moendo levemente a sanidade que ficou...
Por vezes páro este som mudo da minha cabeça inútil para pensar e então pasmo e sofro muito e recupero e digo que não, não é tanto assim, amanhã pensarei doutra forma... mas acabo sempre por voltar a este pensar torturante que não é choro, não é físico, não é nada
Não sei, é sempre a conclusão a que chego, não me encontro, justifico.
Este tempo que passa nada é e eu nada sou.
Talvez tenha perdido o dom de me emocionar e assim encaro tudo como habituação mórbida.
Som roufenho entranhado nas células cinzentas da sociedade.

Prece

O sonho para ornamentar a fronte.
Leveza ensimesmada,
Um pouco que diga a justiça de ser feliz.
Querer avassalador de cumprir
O eterno ritual da renovação.

A conquista triunfante da virtude que reside em nós,
Faz mexer a intuição, o sentido, a vida.
Sofrer o ritual na pele, a fé move montanhas,
A solidão invade-me, dela não posso escapar.
Trago comigo a tranquilidade do sonho,
Comigo no eterno mistério da comunhão com Deus.

Deixo-me envolver em segredo no mundano,
Haste de espinhos, flor desfolhada,
Barba feita, roupa lavada,
Prece esquecida, por mim recordada.

Terço

Retrato imaculado,
Terço à luz de candeias desfiado,
A inocência de olhar matizado,
O sono destroçado.
Melancólica cadência,
O relógio do deserto.
O consolo em sofrimento.
A luz divina, por vezes, é subtil sombra,
Assim, como vitral em dia cinzento.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Poeta

A vida solta em eterna descoberta.
A espera,
O ouvir a voz,
O relógio do deserto.
Viver esparso.
Solidão,
Ruas, calçadas, travessas,
Figuras geométricas.
Ser a eterna juventude de alma de poeta.

Dispersos

O sorriso que indica tristeza,
A comédia encenada por um adeus.
Jogos intermináveis de cartas sem naipe.
O ponto que se engana na deixa de um actor.
Amantes murmurando sons de beijos cansados.
O signo a torturar um destino sem rumo.
Vozes de crianças adolescentes,
A ambição por um eu distante.

Estrada sem Rumo

Desloco-me num passo trôpego, cansado,
Ébrio de pensamentos e ilusões.
Passo após passo numa estrada longa, sem rumo.
Uma vida de obstáculos e provações.
Ao menos alguém parasse esta vontade de infinito.

Aproxima-se a noite dos silêncios distantes.
Dispo a minha roupa de herói ferido em combate
E fico só,
Refém de um sonho ausente.

Letras

Às vezes, apetece-me escrever letras soltas,
Só letras sem ordem nem contexto.
Tirar de vez o sentido ao mistério das palavras
E criar sequências ilógicas de um sentido que não existe.