sexta-feira, 24 de abril de 2015

Hora Desonesta

Outra vez com certezas incertas,
Novamente e entretanto como sempre,
A solidão de braços sem força,
Um sopro de velas e sem fôlego grito,
Um mundo desaparece num dia,
Arrasto o desumano de concreto
E as palavras são tristes nos olhos,
A luz apagou,
É um choro de sinais sem culpa,
Não interessa o tema ou contexto ou circunstância,
A luz que cala e apaga,
A imensa paisagem não estremece,
A poesia é uma abstracção de apontar o dedo,
De colar-se em corpos e desatar em jorros
De sentimentos de carne,
De fazer um canário soluçar no ouvido demente de luz embriagada,
Quando me perco sorrio,
Há sorrisos na tristeza e um tom de dúvida
E um gozo, sentir a piada que morre a todo instante,
Embebido em noites de ódio,
As danças da luz que nada simboliza,
Apenas um negrume no meu peito,
Ainda falta muito para chegar a minha hora desonesta.

Acrescento de Almas

Neste acrescento de almas que nascem
Numa galáxia de mãos desunidas
Encontrei uma estrela desencontrada
De fábula de príncipe que lia a noite de seus olhos,
Num pranto a luz de cigarro meio apagado num cinzeiro de metáforas
O príncipe narrou a história de melancolia de uma treva
E de uma esfera e de um quadrilátero,
Uma centopeia descincopada aparou o medo
E trouxe um engano de espelhos e musas
Como um acto de olhar um homem sorrir
Ou uma estrela ser um conceito de luz que reina eterna na noite
De vestidos de monstros com cabelos despenteados
Nas manhãs que acordamos antigamente nos sonhos de cada um de madrugada.

Lágrima dos Dias

Sou a emoção de pensamento na caravela de momento,
Alegria fugaz, corpo e espaço,
Nada me conduz ao inicio e ao que termina,
A ciência de mudez quotidiana
Nua como pele e sorrir que choro,
Acenar ingénuo e inglório,
Atravessar o cupido de asas de santo
Ao franzir uma sobrancelha,
Nunca fui igual ao que sou,
A pauta das equações na palma da mão,
Lento e atento como punhal,
Dois olhos de choro,
O meu mundo de papel,
Vagueia como barco como corpo desatado,
Sucumbirei no negrume,
Lata de conserva de aprendizes de feiticeiros,
Honesto em minha mentira
De pássaro de horror que se traduz
E se transforma em lágrima dos dias.

Espelho Imaginado

A cidade arde muros e contextos,
Livros de olfacto, a embalagem rosa,
No fim de me perder, rosto macio,
Rock sempre gasto, embaciado,
Repito a onda, a emoção ainda resiste,
Nesta calma de sobretudo que me cobre o corpo de desaire,
Ouço o limite, o mar de olhos,
A destreza de funil, de alambique,
A testosterona, o ditado infantil,
Tudo é um sorriso, tudo desnecessário,
Um hino ao amor na manhã dos corpos cansados por ser dia,
Figuração de cinema nas linhas que fazem andar
No vasto sermão deteriorado de noites frias,
Ainda não acordado,
Ao espelho imaginado.

Luz Enigmática

No escuro e terno momento ainda guardo 
No cheiro do nascer de dia
Um amor embriagado como cor de fronteira
Como lata de comida ou dia de feira,
Nada me lembra certa imagem de olhos e vento,
O silêncio vestia tons de riso
Na comédia em três actos,
Na fábrica de lenços de emoção
Chorei a vida
E dolente como regresso teci o manto de pranto
Como vida comum,
Não crente em palavras acendi um corpo de fantasia
Inalcançável a todos, distante como léguas de cartoon
Na esfera de delito de filme animado,
Sempre lua, mar e canto,
Sempre luz enigmática
No processo de me reconhecer em letras que rasgam a liberdade.

Nome

João Carlos,
Este nome gasta-se como cor 
No meu peito, palavra nua, latejando por luz,
Ainda não este nome,
Nunca, talvez e sempre,
Sou o meu nome inconclusivo,
Enigmático como ciência,
A ficção de morte,
A alma despida,
Não real, não sou eu,
Deturpado roendo o coração,
Não perco este nome,
Vou, embalado, rumo ao encontro embaciado,
Ruas e becos sem saída
Na esteira de me conhecer,
Perdendo-me e achando-me na ideia de meu nome gasto e inconcreto,
Nunca fugi o meu nome mesmo ambíguo,
Mesmo só, sou eu,
A luz não acende ritmo de choro,
Ainda memória irreal,
Ainda não cumpro,
Só e escuso,
Tarde para encontrar sentido de eternidade
Que reside no mistério de eu.

Números

A chuva dos sentidos numa ilusão de números,
A imagem do sentido convalescente imerge,
Na alquimia de traduzir murmúrios e refrões de canto secular 
Enterro o meu machado de cinza pálido na terra ainda molhada,
Ao refrear a manhã ainda carpi mágoas como vidro lascado
E no teu corpo, estátua indefinida, sempre gasta e inacabada
Mergulhei o movimento de existir como uma espada ao trespassar a carne,
Não fujo de ti,
Sei que sou breve como lágrima
Que custa o infinito de dor,
Na face descaída de relógio atrasado costuro impaciências
No constante momento que resvala no riso de xilofone,
Na parede de sombra,
No contador de histórias que não dorme,
Em mim já se calou a vida,
Durmo e justifico como imagem sem reflexo,
Candelabro exausto
Na manhã que sobra todos os dias.

Ser Luz

Decidir a fixidez, a hora exacta,
O leve enlanguescer da manhã
Metamorfose de corpo de laranja e rosa,
Em atropelos e multidões corro em busca de mim
Como animal de submundo
Em busca de um gesto que indique a voz,
Ser eu que me perco em rostos e soluços de memórias,
Um jornal que gasta tinta de chuva
Num dia que cospe fogo
De silêncios,
Perdi o jeito nocturno,
A vaga maneira de me transformar,
Respirar a fuligem de aragem do negro,
Luzes acendem a ilusão
De afecto e um assunto nulo de existir um mocho
E um desgosto por ter percorrido as noites de carne e ossos,
Num dia que fecha olhos,
Janelas do relógio responde tosse no cinema de emoção,
No afago como pedinte de sombras
Dispo o corpo como vício,
Mergulho em sono,
Pressinto a nota de musica
Da madrugada de todos dias ser luz.

Querer

Ao despertar como mago de sombras nulo e gasto
Penso no sonho de momentos que ainda recordo,
O relógio de meia estação pregado em alguma parede
Como respiro o vento embriagado,
Ausente de rotinas,
Apenas cabeça que aguenta
Mais corpo,
Resisto no som de vitória,
Hoje trago um cravo na lapela,
Eu não respondo o perfume e as palavras de idiotia
Como uma gaivota abrigada de ser dia,
Sorriso no frigorífico,
Todos os dias riso,
Já não se apaga a raiz, um gomo de raiva
Como tradução da fronte de luz,
Na jangada de pele
E no erro tantas vezes distante de querer como oculto.

Teatro de Mim

Os actores da minha pessoa
Ainda se mexem como sombras e fragmentos de sonho irreal,
A Democracia é como comunista de mim,
Levaram-me poses, anéis, figuras de estilo,
O teatro da minha pessoa é realmente interessante
Como se fossem bonecos de criança,
Mas sem inocência, como se fosse o homem dos sonhos
E carregasse o resto de mim
Em palavras de solidão, morte, amor, saudade,
As definições são um delírio
E no teatro as personagens têm carne
E quando as desligo vão para casa,
Para vidas que desconheço,
Agem no escuro, olhando
E regulando, porque não posso ser quem sou no jogo de querer ser
O que o sonho não permite,
Na hora do chá as personagens riem se me rio,
Choram se choro e pensam no que penso,
A comédia passa a drama e se me zango
Há uma dose de filme de acção
Como filme de John Wayne,
Assim bebo um chá de trevas
E sismo no teatro de mim.

Perto Tarda

As imagens de livros ansiosas em palavras que roem,
Suavizam arestas,
Árvores de papel de lúcida abstracção
Como pássaros chamando o mundo,
A sirene ainda longínqua no segredar de açoite
Mesmo enegrecido volto à casa do sono,
Conceitos chutam conceitos,
A palidez é um sonho,
Visões de terras de aridez e sem assunto
Que carrego num fechar de olhos à face da lua,
Hoje em dia a mulher espera ser cedo,
Não há silêncio,
Tudo ensina a ciência da liberdade,
O rio desigual de ritmo e cansaço,
Nada é como nada que sou no relógio de momento,
Ainda janela ou ambição de burros e andar despretensioso
Como já nada sobra de resíduo de justiça,
Embarcações de paz no sítio certo,
No degredo, no deserto,
Na onda sempre longe que perto tarda.

Café

No café matinal uma cidade nasce, no peito, atrás do monte,
Levemente, não deixando rasto na voz de todos os dias
Que muda consoantes e vogais de calendário,
O mapa imaginado de ser mais um dia,
No atropelo de multidão um sermão de peixes
E um boneco nas mãos cansadas de erguer o rosto,
Desfiz a imagem no espelho de progresso
De acrescentar mais rugas no semblante que acha graça
Ao dia monótono de mais
Uma peça de orvalho no fundo da alma
Querendo chorar o tempo
Decifrar o papiro de actualidades,
Degredo e justiça de finalidade de coçar os olhos ainda doloridos da manhã cor pálida,
No tempo desabrigado de vento o Sol ainda
Papagueia como um rebuçado na boca das crianças com mimo,
Todos os dias é a metáfora de príncipe
Olhando o nada, olhando o sonho, olhando o nada que me resta
Nesta voz cansada.

Vela

A imensa luz que resta é uma vela num quarto 
Que olha a velhice, rugas e choro,
Não sobeja nada,
Nem alegria, nem ilusões,
Deserto de alma que respira um lamento,
Uma cerveja que fica num copo abandonado,
Mexo o espelho, talvez mais uma imagem,
Um exame, uma inspiração,
O mocho do rosto, o corpo de sala,
Ainda não eu, ainda a pele,
Desperdício que embala um soneto de Camões
Na beira de uma estrada,
A rir-se de si mesmo ao sentir-se infantil
No que não sou, no vicio de calar
A imensa voz de canto de choro,
Pranto despido de incoerência,
Palavras de romantismo sem cupido, sem flechas,
A dormirem em silêncio
Porque incompreensíveis a todos
Na maneira de ser como verso de flor de mato
Que sem olfacto tacteia a cor sempre sem amor.

domingo, 5 de abril de 2015

Coração

Foi isto a maneira exacta de momento parado,
A cabeça move-se em sintonia em corpos dispersos,
Semente de ócio e tardes lentas
Onde cansaço é vida e vida é uma paleta de cores já secas no retrato de meia noite,
Se escrevo o retrocesso vejo o mundo em progresso
E eu estagno em dor.
Andei muito, tão intenso,
O coração extenso e a solidão um barco no mar.
Ainda esqueço e recordo,
Ainda não sou completo em minha ingenuidade,
Tantos exames, tanto sonho,
A corrupção do mundo é a verdade
E ainda não desisti de calar,
De representar e esconder,
A mágoa não é perceptível aos vossos olhos,
Só eu entendo o horrível
E o imenso desespero de ter os olhos rasos de lágrimas
Em ondas de mar que ouvem os segredos da noite escura.

Instante

Resido no instante,
No assoprar de letras como uma viagem ao limite
Do belo ser uma folha de raiva,
A alvorada em que estendo os braços
E lanço o lamento de papel químico num fruto campestre,
Este começo é um desdizer como raio de sol
E tudo é um campo de jasmim nas bocas dos silêncios,
Nos teatros de figuração de textos,
Desespero de uma alma que requebra o incêndio de injustiça ser fome
E um palco é a plateia de cadeiras
Na imagética de nomes que são sentidos nos desaires de cada um,
Encerrarei o ultimo acto de caixão
Nas caras infelizes de lágrimas serem risos que roem
O sentir que valeu a pena morrer e ser infantil e
Nos enigmas deturpados ter a solução desigual que talvez é incerteza
E no câmbio do sossego encerro a minha plenitude de ser o que sou
E não vacilar em renascer no que só eu me permito apreender
No que fui e não souberam compreender,
A justiça é uma derrota e vencido grito aleluias
No piano das ilusões que renascem no vento do grito de Deus.

Tabuada

É Natal no mundo de minha mão,
Meu enfeite de apontar o desengano,
Fui levar o lixo da emoção no contentor das ilusões
E ri-me muito como tolo ou criança perdida,
Em busca de nada encontrei-me carente,
Sem símbolos, marcas, sem códigos, nada,
Respiro o Natal como tantas vezes morri na madrugada negra de orvalho,
O presépio é um corpo que tem sombras
E ainda faz frio no amor de gente que se ama,
A serenata desenfreada no peito
Lembra que tenho um isqueiro com que acendo um cigarro,
Mais rotinas desiguais, mais solidão,
Não sei ler, não me sei,
A tabuada, um isolamento e uma imagem,
Sempre a voz que segreda um tema de luz como vagabundo,
Coisas e reclames e a parede é infinita na morada
Que desiste, resiste,
Tempo de eléctricos em Lisboa,
Tempo de ócio desamparado,
Esta manhã desapareço.

Hora Desonesta

Outra vez com certezas incertas,
Novamente e entretanto como sempre,
A solidão de braços sem força,
Um sopro de velas e sem fôlego grito,
Um mundo desaparece num dia,
Arrasto o desumano de concreto
E as palavras são tristes nos olhos,
A luz apagou,
É um choro de sinais sem culpa,
Não interessa o tema ou contexto ou circunstância,
A luz que cala e apaga,
A imensa paisagem não estremece,
A poesia é uma abstracção de apontar o dedo,
De colar-se em corpos e desatar em jorros
De sentimentos de carne,
De fazer um canário soluçar no ouvido demente de luz embriagada,
Quando me perco sorrio,
Há sorrisos na tristeza e um tom de dúvida
E um gozo, sentir a piada que morre a todo instante,
Embebido em noites de ódio,
As danças da luz que nada simboliza,
Apenas um negrume no meu peito,
Ainda falta muito para chegar a minha hora desonesta.

Estrela

Neste acrescento de almas que nascem
Numa galáxia de mãos desunidas
Encontrei uma estrela desencontrada
De fábula de príncipe que lia a noite de seus olhos,
Num pranto a luz de cigarro meio apagado num cinzeiro de metáforas
O príncipe narrou a história de melancolia de uma treva
E de uma esfera e de um quadrilátero,
Uma centopeia desincopada aparou o medo
E trouxe um engano de espelhos e musas
Como um acto de olhar um homem sorrir
Ou uma estrela ser um conceito de luz que reina eterna na noite
De vestidos de monstros com cabelos despenteados
Nas manhãs que acordamos antigamente nos sonhos de cada um de madrugada.

Acenar

Sou a emoção de pensamento na caravela de momento,
Alegria fugaz, corpo e espaço,
Nada me conduz ao inicio e ao que termina,
A ciência de mudez quotidiana
Nua como pele e sorrir que choro,
Acenar ingénuo e inglório,
Atravessar o cupido de asas de santo
Ao franzir uma sobrancelha,
Nunca fui igual ao que sou,
A pauta das equações na palma da mão,
Lento e atento como punhal,
Dois olhos de choro,
O meu mundo de papel,
Vagueia como barco como corpo desatado,
Sucumbirei no negrume,
Lata de conserva de aprendizes de feiticeiros,
Honesto em minha mentira
De pássaro de horror que se traduz
E se transforma em lágrima dos dias.

Onda

A cidade arde muros e contextos,
Livros de olfacto, a embalagem rosa,
No fim de me perder, rosto macio,
Rock sempre gasto, embaciado,
Repito a onda, a emoção ainda resiste,
Nesta calma de sobretudo que me cobre o corpo de desaire,
Ouço o limite, o mar de olhos,
A destreza de funil, de alambique,
A testosterona, o ditado infantil,
Tudo é um sorriso, tudo desnecessário,
Um hino ao amor na manhã dos corpos cansados por ser dia,
Figuração de cinema nas linhas que fazem andar
No vasto sermão deteriorado de noites frias,
Ainda não acordado,
Ao espelho imaginado.

Fronteira

No escuro e terno momento ainda guardo 
No cheiro do nascer de dia
Um amor embriagado como cor de fronteira
Como lata de comida ou dia de feira,
Nada me lembra certa imagem de olhos e vento,
O silêncio vestia tons de riso
Na comédia em três actos,
Na fábrica de lenços de emoção
Chorei a vida
E dolente como regresso teci o manto de pranto
Como vida comum,
Não crente em palavras acendi um corpo de fantasia
Inalcançável a todos, distante como léguas de cartoon
Na esfera de delito de filme animado,
Sempre lua, mar e canto,
Sempre luz enigmática
No processo de me reconhecer em letras que rasgam a liberdade.

João Carlos

João Carlos,
Este nome gasta-se como cor 
No meu peito, palavra nua, latejando por luz,
Ainda não este nome,
Nunca, talvez e sempre,
Sou o meu nome inconclusivo,
Enigmático como ciência,
A ficção de morte,
A alma despida,
Não real, não sou eu,
Deturpado roendo o coração,
Não perco este nome,
Vou, embalado, rumo ao encontro embaciado,
Ruas e becos sem saída
Na esteira de me conhecer,
Perdendo-me e achando-me na ideia de meu nome gasto e inconcreto,
Nunca fugi o meu nome mesmo ambíguo,
Mesmo só, sou eu,
A luz não acende ritmo de choro,
Ainda memória irreal,
Ainda não cumpro,
Só e escuso,
Tarde para encontrar sentido de eternidade
Que reside no mistério de eu.

Manhã que Sobra

A chuva dos sentidos numa ilusão de números,
A imagem do sentido convalescente imerge,
Na alquimia de traduzir murmúrios e refrões de canto secular 
Enterro o meu machado de cinza pálido na terra ainda molhada,
Ao refrear a manhã ainda carpi mágoas como vidro lascado
E no teu corpo, estátua indefinida, sempre gasta e inacabada
Mergulhei o movimento de existir como uma espada ao trespassar a carne,
Não fujo de ti,
Sei que sou breve como lágrima
Que custa o infinito de dor,
Na face descaída de relógio atrasado costuro impaciências
No constante momento que resvala no riso de xilofone,
Na parede de sombra,
No contador de histórias que não dorme,
Em mim já se calou a vida,
Durmo e justifico como imagem sem reflexo,
Candelabro exausto
Na manhã que sobra todos os dias.

Voz de Sombra

Contemplo o imenso adeus de sobrar-me o corpo
Neste adeus perdido de amanhecer sem norte,
A noite chama-me,
Conheço sua voz que percorre as veias
Como se aproximasse o Natal de infância,
O Natal das formigas, a voz do escuro, enigmática,
Não ouço ritmo e estático um som de Além,
Mistura cores e desníveis,
Dramas de saudades ancoradas no peito,
Tenho palavras que fogem na boca de migrarem nas fronteiras de me pressentir nu como alma,
Derrame de videira na sementeira de lenha,
Há muito perdi o projecto de mim,
Na fantasia entrego a paz e caminho junto do silêncio
De forma a se calarem as vozes feitas de sombra.

Caricatura

Vivemos palavras, mas vivemos mesmo o secreto segundo de existir,
Respiramos ódios e a esperança nula,
Filme de caricatura e andamos às cegas no movimento,
No momento de pronúncio arrastamos o corpo
E a imagem rompe o silêncio de marioneta,
De sermos afinal ambição triste, incapaz e desconhecida
Na multidão de nós mesmos, cansados e inumanos de vivermos sós,
Sem agasalhos de afectos,
De amor inconcreto,
Há muito somos um elo de cosmos derrotado em pele cansada,
No copo embriagado de meia noite
Há lamentos e mães que choram
E no rosto uma lágrima invisível escorre até ao umbigo,
Até quando apagaremos a mágoa e somos nós
Deserdados de vento
Latejamos frio de mãos e carapaças de tudo que sentimos
Ser como um dia de todos os dias,
De riso virgem
Que rompe a aurora de magia na manhã desunida.

Vicio

As fronteiras definem a imaginação
De corpos, espírito, matéria, espaço,
Se somos carne somos vicio
E enrugamos e morremos todos os dias
Como uma corrente que não se explica,
Trazemos olhos e pestanas que nem sentimos,
A face por vezes afogueada,
Não importa o provérbio ou o desdizer,
Somos o silêncio e o barulho,
O mar e talvez a lágrima,
Os anos estremecem e aprendemos o desaprender em novos oficios,
A luz por vezes branda por vezes apagada,
Saltamos letras e regressamos sempre a nós
No destino que não sabemos.

Azulejo

Solto nas amarras de vento,
Na história de maestro um leve sentimento,
Escola azul celeste no corpo, 
Navio de azulejo ancorado no fim,
Nada te disse no triste soluçar
De carpir a tosse e o espirro de soluço,
Nasceu um dia um rosto profano,
Nasceu o mundo numa semana
E os dias apagavam a noite de breu e estrelas semi-nuas
Na lua de segredo que rosna como uma fábula,
No ritual de rir, no sereno remédio de sentir,
No atchim e como vais?
Em relva e jardim zoológico
Como se varrêssemos uma estátua
De perfeição incolor
Nada é tanto como nada é tudo
Como imagem fechada, como lápis de cera
Em desenho rasgado,
Na frase por acabar de verso longitudinal e perpendicular
Á frase de riscos e pauta de música de assobio na luz da manhã.

Máscaras

A emoção lenta como imagem de espelho,
O boneco lento no colo sereno de imaginar,
Transfusão de inocência de anos que rompem o pano de teatro vago e aniquilado 
À destreza de dedos que contam anos que morrem como idade,
Na mascarilha de príncipe uma superfície de sorrir quando bocejo já a solidão
De dedos e enredos que fogem anos,
Dia de telhados,
Dia de enganos,
Todos os dias máscaras,
Poeiras como perfumes de lágrimas que sorriem a decadência de suaves ilusões,
Não sou eu, nada me trouxe a este tempo de morte indecente,
A leveza que morro na dureza de reagir quando não é sim,
Sim, corpo e demência, um rosto que respira
No lixo quotidiano do que sou.