segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Momento de Sentir

No enigma, no existir, 
No momento de sentir
O sagrado do etéreo do profano,
Há uma luz que se ilumina,
Uma cor que pinta a folha de vermelho.

Tempestades de Verões,
Esplanadas em verso,
Concretizo-me na madrugada do meu regresso.

Porque fui talvez alguém que não sou
E sou quem hei-de ser,
Economias dispersas,
Tolices de chamas, fogo da ilusão,
Mais uma noite e morro,
Mais teatros dispersos 
De dias que custam tanto,
É tão real o que me custa
E tão melancólico o que me perco.

O Alvo

A seta, o alvo,
A forma do ser que foge
E não encontra o hábito de fuga,
É triste o esquecimento do anonimato,
Enredos que formam a teia de subtis enganos,
Há matéria do pensamento que se ouve a ecoar dentro do infinito da minha cabeça.
Mórbido instante que se afunda no medo do segundo, 
Passageiro como inconstante,
O bater acelerado do coração de quando a emoção se esconde no peito,
Muros brandos e roseirais da complacência,
Sei de tudo o que sofre em mim,
A dor irrita-me, faz-me mal
Como mortalha, 
Véu de pano a encobrir a solidão do homem que sozinho chora.

Porque não a Felicidade?

Sim, tenho a certeza da dúvida
E todas as vozes me perseguem 
Em dolorido piscar de olho
Ao que não é cegueira,
É talvez não dar nome aos nomes
Verbos inconstantes,
Adjetivos que não qualificam.
A cor de atalho em coração que bate levemente,
Assunto, desnível de emoção,
Recebo os aplausos de circo,
De repente há palhaços e malabaristas
E senhores de gravata e mulheres estéticas
Feitas de melancolia e perfume de intimidades
As cores são eternas pedindo-me que fique,
Porque não arrancar o sentido ao virtual, ao inanimado?
Pintar o amor em real amor,
Porque não a felicidade?

Processo

O processo, aquele de Kafka, decorre lento em minha cabeça, 
Nos meus olhos, na minha pele,
Enquanto o julgamento com juízes e advogados e agentes de autoridade
Em imaginário de células de cinzento decorre em lento adeus,
Vou apagando versos e fazendo-me forte,
O real decorre em ondas, etéreas e nulas,
Faço travagem a fundo em assunto,
Mais páginas de fim de dia triste ou alegre como o tempo que chove, faz frio, 
Alma que vê além o aqui, o neste momento, ou se calhar algo de trivial,
Apenas cheiro de emoção, nostalgia de lembrar...
Não é nada,
Ou é trovoada, retrocesso de imagem que é entropia,
Microscópio de análise de atmosfera,
Socorro... digo alto até os pulmões não terem ar
Há vida em Marte e eu morri há 14 anos.

Continuar Vivo

A sensação, instante de prazer,
A dor evapora o momento que permanece em meu olhar,
Metáforas de amanhãs como árvores de frutos,
Searas de trigo em dia de vento,
Em breve esquecerei o que não sei,
O que quero dizer, o sonho, a imagem, o ser,
Uma blusa igual a tantas outras e a nudez de conceito,
A semente em repouso, o dinheiro parco, moedas na algibeira contadas,
Mas há assunto em palavras que dormem nos meus dedos
E a tempestade é agora neblina,
Que frio, transmito a minha fraqueza em colchões de existência sonâmbula.
Este que eu sou é qualquer coisa assim como desprezo, 
Não sei se me gosto de me gostar ou que gostaria que fosse,
Arrasto pedras em sonhos,
Acordo o vago,
A ciência não é perfeita,
Ah como queria que amanhecesse a tranquilidade
E o meu semblante fosse matéria de discussão em ambientes de Outono.
E o mundo? Alguém sabe traduzir o medo de mundo?
Alguém já chorou a hora eterna?
Ah que laço em prisão que oculta a escravidão
E que audácia depois de tudo ainda continuar a vivo.

Íntimo

Íntimo desespero, ruína,
Luz que não alcanço, rosto, demora.
Eu sei a palavra do acontecer é guia de ato que fica
Que em em conjunto é drama ou não,
Não é palavra, não é mágoa,
É destino, manhã em flor,
Largada de touros em dia de festa,
É romaria, travessia,
Ser poeta, limar arestas,
Conquista de amo-te muito como calma residual,
Sem futuro nem passado,
Assim como estátua do que mais gosto em mim,
Dou-te a inocência, dou-te o que gosto,
Não me peças o que não tenho, o que me falta,
A regra do esconder, a razão, o que em mim chora.