sexta-feira, 24 de maio de 2013

Fim de Sonho



Por vezes  esta ilusão,
Em estados de perturbação emocional,
É  melancolia escusa e confusa 
Que irradia luz em olhos
Que inocentemente cegam,
Tal como soluço de morte.
Levanto as mãos,
Tento a realidade...
Porque tudo é tão longe?
Porque o que eu sinto não é
Recordação do acontecer?
Em vão procurando o sono das letras
De estar sempre tão cansado 
Em pensares sonâmbulos
E o sentimento que não acompanha
O que a emoção não diz
E adormeço os sentidos que fraquejam
Na ilusão de nunca
Ao fim do sonho conseguir regressar.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Cinema




O enredo do filme,
A trama e a sua acção
Transforma-se em olhos que lêem e sentem
Íntimo espírito,
Sangue e corpo,
Calendário de vida.

O eterno actor que se vê ao espelho,
E se reflecte em ambientes 
Místicos, incógnitos, distantes.
É personagem,
Coração que sente,
Uma cena de acção faz acender 
O seu entendimento e a sua mente.
No final
Olhares cúmplices,
Voltamos a ser quem éramos,
Acendem-se as luzes,
O sonho acaba
E discretamente enfrentamos um futuro
De improbabilidade,
Destino com final incerto.



terça-feira, 21 de maio de 2013

Ontem


Dizer-te do meu espirito,
Algo pouco ou muito de mim 
E nessa entrega o meu todo,
Como se não interessasse,
Fosse mero sonho que tivesse sonhado.

Por vezes não recordo tudo o que tenho guardado
Dentro do meu coração,
A memória do ontem é passado longínquo,
Emoções adormecidas,
Visão de Sol que procura abrigo
Em nuvens no horizonte
Sempre longe,
Continente e constelações
De planos ocultos
Que revelo em imagens de memória,
Tal como o corpo letárgico,
Relógio de corda,
Compasso de espera em estações de comboios,
Que vão e vêem
E eu permaneço instável e ansioso 
Por te dizer que não esqueci 
De tudo o que em mim mora e me subtrai
Da vida, do mundo,
Do jornal na banca com títulos grandes,
Que leio e finjo me interessar,
Porque já nada me interessa,
Já não sei ou
Ouso sequer sonhar.
Abro os olhos 
E vejo o meu retrato de solidão,
Que não diz nada,
Não tem expressão.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Sentimento

O meu manto de trevas soltei,
Escuro como capa de livro bíblico,
Os meus olhos na maré deixei
E despi-me na luz de castiçal que morre.

A vida foge
E ressurje na morte de um novo dia.
Através do sentimento
Acordo o bem do mundo,
Mas quando o sentimento desfalece
Reencontra o espelho
Do imortal retrato de Jesus Cristo.

Nota Musical

Maré de braços no ar,
Asas soltas pelo espaço,
Ritmos de folclore de luzes e cores.

O meu corpo nu,
Cansado de batalhas distantes,
Fechado em casulo de orquestras
Ensurdecedoras ao ouvido
Que não ousa silenciar o real
Da nota musical.

Numa gramática de composição,
Clave de sol,
Dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, dó,
Cantado pelo coro de anjos
Na terra e no céu.

Nocturno jeito de ser
Que procura em vão compreender,
Diário, romance, intriga, mistério,
Filme de acção
Que na viagem carrega
Sabedoria, cumplicidade, abstracção.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Harmonia

Aventuro-me na escrita,
Letras, palavras, frases,
Tudo preso por novelos,
Fios embaraçados soltos no canto,
Linhas de pensamento,
Metáforas, comparações,
Ousadia, audácia, exclamações.

Procuro o abstracto, o nexo, o sentimento,
Onde possa descansar no sono,
No colo das palavras.
Ao virar da folha acordar em realidades de sombra,
A eterna imaginação de janela solta à magia.

Com delicadas mãos
Construo o poema,
As rimas, as estrofes,
O verso,
Como se o que escrevesse
Fosse harmonia,
Pronome pessoal do comum,
Do tudo, do real, do invisível,
Do universo.

domingo, 12 de maio de 2013

Equilibrio


Equilibro-me entre manhãs
De palavras apressadas
E a tarde,
Imponderável tempo comum
Que dorme com a angustia e o cansaço.
Por fim,
Quando os candeeiros se acendem
E não há luz do Sol,
Começa a noite,
Noite escura de poses, de rostos,
De fingimentos, de ritos e tribos,
De gatos cinzentos e pássaros nocturnos.
Noite,
Memória imperfeita,
Cicatriz de pensamento.
Noite,
Silêncio em forma de passagem
Com ideias sonolentas
No pensamento que adormece.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Eu


Retrato vago, 
Constante e delirante busca do eu em elementos marginais a si mesmo. 
Solidão.
Definição desencontrada, exaltação, empirismo, mito de narciso.
Manipulação rítmica,
Intimidade partilhada em contextos de humor íntimo, 
Identificação de noite e amor, tal como a noite é escura e as ilusões desvanecidas.
Sofrimento interior, cumplicidade
E é como que elemento que derruba a convicção do real, 
O eu somos nós ou a razão louca e fugidia que nos ultrapassa.
Estados emocionais de exaltação, estados depressivos.
Sentimentos gritantes, conceitos, ideias, valores, contradições, humor, magia, simbolismo e futurismo enraizados em portugalidade.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Horizonte

A terra, o espaço e o mar,
A linha do horizonte,
Ténue margem entre o ir e o ficar.
Constante hesitação
De tudo sofrer e nada poder dar.

Olhos cintilantes na noite sem sono,
Estrelas no céu,
Os anjos não ouvem as minhas preces,
A todos o meu comovido adeus.

Variação de humor ao som de violinos,
Orquestra sinfónica,
No Domingo os sinos,
Quadro expressionista,
Emoções anímicas.


segunda-feira, 6 de maio de 2013

Em Busca do Sonho


Não sei se consigo capturar
O momento, o instante,
O negativo ou radiografia,
Revelação ou rebeldia.

Olhando o passado,
O instante presente,
Vejo o filme, o concreto,
A história ausente,
A realidade aparente. 

Em noites de esquecimento,
Onde dançam as ondas
E os gestos gráficos,
Em procissões de inocência e fé,
Em ambientes místicos, distantes,
Na invenção de rituais
De mãos rezando por um dia
De esperança, de consolação,
É onde me encontro,
É onde o eu é um eu mais que um todo.

Na sombra do desconhecido,
Na expressão comum,
Na cor que grita,
No monumento,
O meu ser anónimo faz a sua morada
E, assim, não me acho tão só,
Deixo-me encontrar,
Personificar, vaguear,
E descubro no real,
No singular, na unidade,
O que há de mais complexo
No meu ser,
Na minha alma.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Dúvida

Suspeito que no meu pensar
Tudo não passe de mero fingimento do real,
Peça encenada de papéis, actores, cenários neutros,
Mãos e fios que me fazem mexer,
Deambular ao acaso...

Sou fantasma de palavras singulares
Que ouço e volto a ouvir
Até ao limite do movimento
Articulado e impreciso do meu nome.

Mãos que escutam os meus olhos,
Como acordes de guitarra,
Memória de madrugadas,
Olheiras vincadas no rosto,
Cegueira de ver mais além.

A dúvida é matriz de pensamento e emoção.
Tudo é tão vago e misterioso.

Difícil a tarefa de concretizar a razão,
Dar cor ao comum imprevisível.
A minha sombra,
Solta nota musical,
Alfabeto de hieróglifos indecifráveis.