sábado, 29 de novembro de 2014

Caricia de Versos

Os versos ziguezagueiam entrelinhas,
Entreatos,
Fugazes, maliciosos
Como corda bamba
Do que mais genuíno e atroz se faz por cá,
São cores, madeixas e corpos nus
E o Universo é uma dança,
Estrelas e astros
Como correria louca pela solidão
Para me alcançar em braços sórdidos
Ou carícias descontentes,
Este pensamento é a minha alma,
É tua, dou-te embrulhada,
Metamorfose do que entenderes,
Acaricia os versos,
Leva-os pela cidade
E deixa-os em multidões,
Abandona-os nas tuas frustrações,
Sê animal.
Só se vive na ignorância,
Quem somos nós senão espelhos,
Que renascem velhos
Na eternidade dos conceitos, preconceitos que se perdem aos poucos,
A minha missão não é nada,
O futuro é uma amálgama de sereias,
Uma tarde de copos,
De corpos,
Ondas desiguais de memórias que me guiam
No processo da trivial tradição
De voltar ao mesmo sitio onde se nasce
E onde vou desaparecer.

Suave Deslumbramento

No teu silencio há luz,
Há sorrisos,
Estátua indefinida sem movimento de tão belo o tempo a olhar-te,
Uma corsa, talvez réptil ou aranhiço,
A natureza imita-te,
Noite de bruxas,
Encenação,
És livro com palavras que dizem junto do meu ouvido
Tudo o que sonhei ouvir,
A estátua intocável do sonho,
Voam os anos,
O vento dos dias não se vêem,
A dor de te imaginar,
Garras da memória,
Suave deslumbramento o que sinto.

Dor de Pântano

Sempre a mesma lucidez irreal,
A luz aparente,
Encenação de cigarro na calada da noite,
Um miradouro sobre Lisboa,
Que perdição...
A forma lúcida das formas circulares de fumo na calada da noite ,
Um gemido aparente de dor
Neste jeito de gemer calado
A angústia do escuro pensamento circular,
É perpendicular na manhã que atravesso no sono
De minha vida.
Linhas escusas, serenas e toscas que não compreendo,
Maldito destino,
Desdizer de sonho,
Aprender a lição sem regras
A dor de pântano.

A Incerteza

Desejo a ambição de saber,
Conhecimento desmedido de alma que sofre,
A incerteza desta vida lenta,
Fico na calada da noite, 
Em memória e sinais,
Fico indistinto na dúvida,
Na incompreensão e incerteza
De ter tempo contado como segredo e degredo
Na palma de minhas mãos.

Meus Olhos

O espelho deformou o reflexo
E os olhos que vi no momento que olhei
Eram os meus,
Toco ao de leve a imagem,
O contorno do olhar, o seu jeito,
Mansidão que contempla o vazio do ser,
Olhos calmos que no espelho de alma
É a maneira de dizer que te amo.

Começar Por Te Dizer

Começar por te dizer,
Assim,
Nesta maneira de apaziguar esta solidão,
Somos apenas pessoas sós parecendo felizes.
Somos nós mesmos,
Sós,
Partilhamos ambições e sentimentos,
Adormecemos acompanhados e vazios.
Damos as mãos,
Acariciando os dedos ao de leve,
Sufocamos a paz,
A tua mão é a fronteira de felicidade
Nas linhas que reconheço da palma de destino
Como rede impressa na tua mão.
A linha da vida de tua mão na minha,
És real.
O coração bate certo
Por entre as artérias de meus sentidos.
És minha definição,
O que quero dizer e sentir
Neste momento de emoção
De te olhar e te saber minha.
Habitamos rituais despidos,
Habitamos amanhãs de incertezas.
Tantos enganos,
Tantos amanhãs no calendário de todos os dias.
És o meu verso de prosa e alegria,
Ontem sonhei-te,
Acordei a realidade
E despedimo-nos de nós na inocência,
Na incoerência,
Na virtude,
No pecado de desejo,
Meu delírio de amar o Universo,
A tua nudez,
Presságio de te bem querer para sempre.

Espelho de Alice

Tantos anos como indiferença de dias planos,
As lágrimas brotam de uma fonte de desejos ,
Flores ao vento e pensamento,
Há muito que sou estátua de jardim,
Pessoas e crianças passam por mim
Felizes por se acharem na alegria comum,
A lágrima do sentir é ténue,
Desdobrável, folhas de livros de pétalas,
Vou desculpando a vida,
Apago uma estrela e ando em frente ao abismo,
A calma de ser só eu,
Múltiplo de nós,
Com sonhos e cabeças flutuantes.
As desculpas inventam perdões,
Sou mendigo de imagem
E quase evito sorrir
Ao espelho de Alice,
Tento apagar números e subtracções e câmbios
Do infinito,
Nada é substituto de si mesmo.

Noite Escura

Foi isto a maneira exacta de momento parado,
A cabeça move-se em sintonia em corpos dispersos,
Semente de ócio e tardes lentas
Onde cansaço é vida e vida é uma paleta de cores já secas no retrato de meia noite,
Se escrevo o retrocesso vejo o mundo em progresso
E eu estagno em dor.
Andei muito, tão intenso,
O coração extenso e a solidão um barco no mar.
Ainda esqueço e recordo,
Ainda não sou completo em minha ingenuidade,
Tantos exames, tanto sonho,
A corrupção do mundo é a verdade
E ainda não desisti de calar,
De representar e esconder,
A mágoa não é perceptível aos vossos olhos,
Só eu entendo o horrível
E o imenso desespero de ter os olhos rasos de lágrimas
Em ondas de mar que ouvem os segredos da noite escura.

O Meu Nome

Sempre tive, digo agora, medo
De me apresentar,
Dizer o meu nome,
A minha idade,
O que fiz ou o que faço,
Pois eu não sou eu senão o conjunto de coisas
Que me contém,
O meu nome é uma ficção invisível
Como oculta nos olhos de quem me olha,
Sempre tive medo de mim,
Há uma força ou energia que não decifro
Quando não sei responder o que sou,
Tantos sonhos, tão idiota fui,
Tantos braços a erguer-me na vitória
De me saber assim excluído de ser quem sou,
Não sou um nem o que escrevo está correto,
Pois poderia ser outras palavras,
Poderia ser personagem, cartoon,
A história de um príncipe sem trono,
Um louco sem esperança
Que grita convalescença,
Onde me leva o meu eu
Senão no colo adormecido
De alguém que me lembra,
Talvez esqueça,
Talvez eu vá acordar o sonho
E adeus a todos é apenas
O que desejo dizer na ambiguidade
De sociedade que sei que respira,
Que me abraça no eco de um lamento,
A emoção é a minha cruz de me saber
Vivo e presente
Em todos os que não me esquecem
E eu não esqueço ninguém,
Guardo todo o bem e também mal
E tento ser melhor que ontem
E o futuro repousa em meu nome
Tão meu como tão gasto
Na impaciência de o saber de alguém
Que o encontrar por acaso
Num atalho de vida,
Numa memória, num vão de escada
Ou na face de uma criança,
Guardem o momento,
O significado e o sinónimo
E noite e história ou desejo,
Murmúrio ou choro
Tal como eu faço todos os dias.

Assoprar de Letras

Resido no instante,
No assoprar de letras como uma viagem ao limite
Do belo ser uma folha de raiva,
A alvorada em que estendo os braços
E lanço o lamento de papel químico num fruto campestre,
Este começo é um desdizer como raio de sol
E tudo é um campo de jasmim nas bocas dos silêncios,
Nos teatros de figuração de textos,
Desespero de uma alma que requebra o incêndio de injustiça ser fome
E um palco é a plateia de cadeiras
Na imagética de nomes que são sentidos nos desaires de cada um,
Encerrarei o ultimo acto de caixão
Nas caras infelizes de lágrimas serem risos que roem
O sentir que valeu a pena morrer e ser infantil e
Nos enigmas deturpados ter a solução desigual que talvez é incerteza
E no câmbio do sossego encerro a minha plenitude de ser o que sou
E não vacilar em renascer no que só eu me permito apreender
No que fui e não souberam compreender,
A justiça é uma derrota e vencido grito aleluias
No piano das ilusões que renascem no vento do grito de Deus.

Arte de Escape

A arte de escape como furto 
Ou voo de mosquito na esplanada,
Orações e homilias e batinas de procissões,
Vi a poesia fluir num acenar à razão que morre sempre,
O conteúdo plástico nas antenas de suspeitar e faro, 
Sempre o faro nos narizes dos animais pressentindo perigo,
A emoção fria das imagens de odores de músculos que doem no ser alguém,
De ser algo que não se vê e a magia do corpo que retrai a alma
No vazio de angustia de história que repete
O teatro, a dança de momentos,
No infinito particular fiz uma chamada ao homem que tomava um café,
Delicadamente respondeu-me que silêncio é uma arritmia
E que oito horas de trabalho é a sua ciência,
Disse-lhe que a farmácia vende histórias de banda desenhada
E que eu significo mais que um quadrado,
Porque sei que o espelho é feito de olhos e pestanas que não sentem,
A arena é um espantalho defunto
E trago o meu semblante um pouco desiludido como a roupa de cama
Ou a colcha que não presta,
O colchão e nada aquece neste frio desiludido
Com tudo o que as horas dizem no significado de não me compreender.

A História Esquece

A maneira de acenar instável,
O meu condão de virtual desígnio lúcido,
Ténue em ambição,
Despi o enredo de mil cores num quadrado de memórias,
Coração de máscaras e lamentos,
Momentos que ouço o fluir de gestos,
Sou eu que venho lembrar que já me basta a indiferença,
Malmequeres nas janelas como o pólen desta vida exausta,
O fim tem a graça de ausências,
O ditado de escola sei-o de cor na complacência de um beijo demorado,
Carpindo acasos e costurando feridas,
Ainda a graça talvez justifique o que esqueci,
O mundo é um sonho breve, sufocante,
Não entendo, por vezes, o que custa um momento de pele,
Ternura de milénio,
A história esquece, arrefece,
Nem um café lembra a paixão de Cristo,
Ou a inocência de fome das crianças que morrem.

Manhã Clara

Trôpego, um pouco inconsciente, inconstante,
No ar um arrepio de chuva e um silêncio de escuro,
Caminho em movimentos estáticos, automático,
No pensamento fértil,
Noto que ainda não há o senhor que vende castanhas,
Sentir o cheiro tranquilizar-me-ia neste anonimato,
Em vésperas de sorrir desfraldo as emoções no corpo de instantes
Como é um voo de gaivota num leve ruborescer,
Nada é inquieto, apenas instável no momento de tocar o ambiente
Que ergue o som de relógio,
Tique-taque num ápice,
É Natal como senti o nervosismo de época de exames,
Nada me é indiferente e nada sinto,
Riso húmido e cores garridas que desmaiam,
Nocturno ou momentâneo, calculista, simbiótico,
O rapaz dos problemas e incógnitas,
São apenas sombras como corpos chineses
Na manhã clara de sentir.

Nuvem Alta

Ia a nuvem alta no corpo de nós
E, serenamente, um Sol de espelhos ateou uma chama de embaraços 
Como um alfabeto de mágoas e corpo de sons desonestos,
Um virtual velhinho e um copo de vinho,
Uma vela de barco que arrasto em sonhos
Na podridão de madrugadas imateriais e oblíquas sem nome,
Não desespero nem atiço o óbvio nem conto distracções de pianos toscos,
Hoje transmito tunas de fatos negros e folclores de olhos,
A janela é um objecto que faz caricaturas,
No processo de sentir desejo encontrei um cego que pedia imagens,
A noite está iluminada de sabores e transfusões,
Encontros no desalinhamento de desaire,
Há uma escada de cemitério,
Um rosto impaciente por nada,
Por depósito de ritmos e um arame de farpas
No momento que repouso,
No dia que demora,
As referências de cicatrizes e luzes.