sábado, 7 de março de 2015

Eco de um Soluço

Tantas vezes surdo no eco de um soluço,
Sereno em ondas de emoção tardia,
De passear,
De me encontrar,
Perdido em multidões,
Gasto entre esmolas de ambiguidades,
Enterrado em memórias, antiguidades,
Cansado de olhos e cruz que arrasto na imensidão de transformação,
De um gesto ser não
E perseguir o lamento,
Enredado no sentir e não sentir
As horas de existir,
E demente
Quando nada é capaz e tudo faz sentido
Por instantes de mil expressões gastas num segundo,
A pele não chega para corpo,
A alma interroga o ser
E então o álcool de madrugadas,
As danças de angústias
Trazem sonhos
E palavras no vento da condição trágica
De acordar de sonho.

Distância de Sorrir

Ter e dizer, ocultar, temer,
Verbos que param, escutam e olham
Na distância de sorrir ou amar,
Ler ou ignorar,
A simetria de aparência que nos olha
Numa estante de poeira de biblioteca,
A semente de vicio acalmou na madrugada de afecto,
No jogo de capacidades abstractas como raiz de planta.
Ainda uma estrela brilha nesta imensa noite
Que transpira, emigra ou geme
Como silêncio de negrume,
Acaso de saudade e caminho,
A tradução sem nome do acaso da probabilidade
Da metafísica de corpo que baloiça
Nas páginas de ordem e rigor,
A prosa de sentir a poesia
Como letras neutras
De dizer o que o real nos indica
Na essência de nada dizer e tudo não ser assim
Como um risco numa parede
Ou um som de marioneta que apaga o sonho.

Night Club

O Inverno de palavra que chove
No sentido de fazer frio
Na memória branda.
Na veste do andarilho
A pele é ainda Outono
E o amor fechou portas no night-club
Dos olhos que choram,
Na graça de um lamento que morre no desejo,
A página de um livro inculto encerra
A borracha da primária,
O apagador de giz que já não faz contas.
A importância mede-se num filtro de emoções tristes,
A dimensão de uma régua que arrasta um susto.
Amor ainda não encontrou a definição
Da manhã e as núvens
E o dizer das palavras cinzentas,
Morrem na angústia de se cansarem
Ao se recordarem do dia que passou
E o futuro aguarda o suspiro,
A manhã em que somos vício e sopramos letras
Para dentro de corpos
Descobertos e apagados
Na manhã inacabada,
Na manhã ainda por inventar
Que nunca se apaga e nunca se esquece.

Sino

Se nobreza e ambição,
Se ficção e cabelos negros de crinas e montanhas,
Se um oceano de nuvens trouxesse o mar,
Se talvez ou nomeadamente, sobretudo e porém
Trouxesse glória, 
O meu nome seria uma forma de entender o que não disse
No vago momento de desdizer o sentido
Da origem de uma pena,
De certeza ser um rosto que chora,
Um vento que emudece,
O vestido de serpente que costura a impaciência,
A voz do objecto e do regresso,
A imagem de santos e cantos,
O espelho que não faz sentido no olhar de químico
Que mistura a alma a um provérbio
E o reclame decente apagou o voo de olhos
E o progresso vem com a machadada de som de sino de igreja.

Sorriso

Decifro o papiro do imaginário
De um dia que luz e silêncio é som de autocarro
E vozes de plástico como corpos nus ao longe como vazio,
Delírio demorado nos problemas de equações de álgebra de bolsos apagados,
Lábios serenos e pálpebras de braços,
Olhos azuis e um encantamento,
É um amanhã de noites e gritos na minha cama
De registo,
Apago o sonho e solidifico o corpo,
A imagem já não importa,
Já não corro estores,
A música sangra no espírito,
Nas letras de desunião e os enigmas,
Desatinos como escuridão,
No caminho que traço na manhã transfigurada de esboçar um sorriso.

Murmúrio

Em portas e desníveis procurei a memória de teu nome,
A inocência de máscaras de brandura,
A face calida de um beijo,
Na lonjura de te imaginar neste presente de saudade
Esvoacei a mão de perdiz no espelho de osso,
Calma e um desejo como negrume e som de velas,
Nessa memória que contemplo e afago como fado,
Trouxe o olhar descontente e vago
Na parede de relógio
De te sentir na ausência de ambição,
Ainda não ouço o murmúrio destroçado
De real e ficção descrente no futuro de cordel
Embaciado por tumultos.

Grito de Deus

Resido no instante,
No assoprar de letras como uma viagem ao limite
Do belo ser uma folha de raiva,
A alvorada em que estendo os braços
E lanço o lamento de papel quimico num fruto campestre,
Este começo é um desdizer como raio de sol
E tudo é um campo de jasmim nas bocas dos silêncios,
Nos teatros de figuração de textos,
Desespero de uma alma que requebra o incêndio de injustiça ser fome
E um palco é a plateia de cadeiras
Na imagética de nomes que são sentidos nos desaires de cada um,
Encerrarei o ultimo acto de caixão
Nas caras infelizes de lágrimas serem risos que roem
O sentir que valeu a pena morrer e ser infantil e
Nos enigmas deturpados ter a solução desigual que talvez é incerteza
E no câmbio do sossego encerro a minha plenitude de ser o que sou
E não vacilar em renascer no que só eu me permito apreender
No que fui e não souberam compreender,
A justiça é uma derrota e vencido grito aleluias
No piano das ilusões que renascem no vento do grito de Deus.

Escape

A arte de escape como furto 
Ou voo de mosquito na esplanada,
Orações e homilias e batinas de procissões,
Vi a poesia fluir num acenar à razão que morre sempre,
O conteúdo plástico nas antenas de suspeitar e faro, 
Sempre o faro nos narizes dos animais pressentindo perigo,
A emoção fria das imagens de odores de musculos que doem no ser alguém,
De ser algo que não se vê e a magia do corpo que retrai a alma
No vazio de angustia de história que repete
O teatro, a dança de momentos,
No infinito particular fiz uma chamada ao homem que tomava um café,
Delicadamente respondeu-me que silêncio é uma arritmia
E que oito horas de trabalho é a sua ciência,
Disse-lhe que a farmácia vende histórias de banda desenhada
E que eu significo mais que um quadrado,
Porque sei que o espelho é feito de olhos e pestanas que não sentem,
A arena é um espantalho defunto
E trago o meu semblante um pouco desiludido como a roupa de cama
Ou a colcha que não presta,
O colchão e nada aquece neste frio desiludido
Com tudo o que as horas dizem no significado de não me compreender.

Desígnio Lúcido

A maneira de acenar instável,
O meu condão de virtual desígnio lúcido,
Ténue em ambição,
Despi o enredo de mil cores num quadrado de memórias,
Coração de máscaras e lamentos,
Momentos que ouço o fluir de gestos,
Sou eu que venho lembrar que já me basta a indiferença,
Mal-me-queres nas janelas como o pólen desta vida exausta,
O fim tem a graça de ausências,
O ditado de escola sei-o de cor na complacência de um beijo demorado,
Carpindo acasos e costurando feridas,
Ainda a graça talvez justifique o que esqueci,
O mundo é um sonho breve, sufocante,
Não entendo, por vezes, o que custa um momento de pele,
Ternura de milénio,
A história esquece, arrefece,
Nem um café lembra a paixão de Cristo,
Ou a inocência de fome das crianças que morrem.

Tic Tac

Trôpego, um pouco inconsciente, inconstante,
No ar um arrepio de chuva e um silêncio de escuro,
Caminho em movimentos estáticos, automático,
No pensamento fértil,
Noto que ainda não há o senhor que vende castanhas,
Sentir o cheiro tranquilizar-me-ia neste anonimato,
Em vésperas de sorrir desfraldo as emoções no corpo de instantes
Como é um voo de gaivota num leve ruborescer,
Nada é inquieto, apenas instável no momento de tocar o ambiente
Que ergue o som de relógio,
Tique-taque num ápice,
É Natal como senti o nervosismo de época de exames,
Nada me é indiferente e nada sinto,
Riso húmido e cores garridas que desmaiam,
Nocturno ou momentâneo, calculista, simbiótico,
O rapaz dos problemas e incógnitas,
São apenas sombras como corpos chineses
Na manhã clara de sentir.

Noite Derrotada

Neste rigor de economia de processo,
A tímida imagem de Inverno é um momento que acrescento
Ao tempo nulo emparedado num azulejo,
A angústia tem sabor de derrota
E um certo desnorte,
Onde nem física ou sombra,
Nem sonhos que dormem
Alegram paisagens,
Onde a segura inovação de ter interrogado espíritos
Ao matraquear de conflitos de dor
Se eleva a esperança,
Um enfeite de Natal é um dom,
A fatia de bolo num café com cânticos de Natal
É a montra de escutar um gesto,
A foice da aragem,
O dragão de caligrafia de óculos
Na noite derrotada.

Utopia

Empresto a minha morada de utopia,
A vaga manhã de corpo de giesta,
Calma de dedos que cortam tempo,
A rotina de artimanha como um perdão
Ou tosse de espirro, lata de conserva,
É um final lento este despir de mágoas,
Um cavalo de pau que recordo tão infantil e tosco,
Não abro os olhos na penumbra de espelhos,
Evito sentir,
Tanto dizer como locomotiva de acidente
Desenhado no peito de circunstância,
A morte caminha, lentamente,
Conheço o seu arfar,
A indistinta face dos desejos,
Ambição de presságio,
Tudo é um motivo como sentir que não sente,
Acordo mais sentidos
Na penumbra de versos tontos, imagéticos,
O que se apropria é o momento,
A breve leitura de olhos que vêem o fluir de impaciências,
O trabalho árduo de papel e tinta,
A borracha virtual,
A memória branda de procurar a côr de fundo,
O barco de sonho que trouxe neste processo de fio de prumo
Que acrescenta qualquer alma,
Veste amanhãs de luta e envolve
A chama sempre breve de ser tudo apenas simples.

Gesto

Desenhos de cor, névoa de corpos semi-nus,
A embriagues de sentir, calmo e somente só,
A mortalha de fogo suicida e torpe, convalescente,
Poderia ter sido vida o que morrendo sou,
A majestosa mansidão de te dizer como não me conheço,
Alergias de exames e abelhas de áspera madrugada,
Entrego o gesto, o processo,
Faz de conta como bicho ou fisga de madeira em fábula azul,
Já a mágoa, a tenacidade como degredo,
As silabas não sorriem,
A matemática é um deserto de fantoches como doentes,
O gerúndio dos números é uma equação
E o sinónimo de eu é um.

Significação

Não pretendo sintonizar ou verbalizar ou nomear, dizer sim,
Acho a vida pequena no seu estranho mundo de significação,
A aparência desiludida é a metáfora de muros
E neste conflito de luz, sombra, real e submundo
Abandono a palavra tu como inconsciente de ser outro,
No relógio intelectual de ainda ser luz o piano ilumina o céu
Com folhas de perfume como um inebriante rosto cansado,
A arritmia da cidade é um pulmão roxo
E o corpo já cambaleia,
As janelas impacientes são uma chaminé colorida de morcegos,
Dançam em segundos e segundos em horas,
Traduzir os dicionários da demência não faz urticaria
E velejando no sentir, no dormir,
No segundo que toquei uma vértebra,
O rádio dizia umas coisas banais,
De certo modo a esquizofrenia só faz sentido na alma sã do poeta.

Extrema Inglória

A batalha, sempre vem batalhar o que nos resta,
Mãos de sangue, 
Extrema inglória,
Neste ler que decifro como manhã de rigor,
A procura de sinalética de mordaz sentir,
Sei ler, sim,
Como sopa de letras num qualquer lugarejo da minha memória,
Ténue a minha sorte de lembrar e quase morrer quando sinto que choro,
Quando me afogo,
Quando de mim me lembro,
João, o passado é tão longe como teu nome,
Fugaz o que arde dentro de ti,
No filme de cama solitária,
Um teclar decadente de lembrar-me com sete anos
Comendo a sopa de letras,
A aletria como sobremesa
E sentir que seria sempre assim.

Olhos

Olhos agitam olhos como ramos e tecidos,
Vento das estações de piano distante,
A ideia, um refrão, um enfeite,
Mistérios como prendas saturadas,
Instantes decadentes,
A margem de querer acenar a um veleiro,
Tenho óculos em demasia e um ditado que é sermão,
Tentei o oculto imaginando o céu,
Tentei amar para além do real,
A sombra de impaciência num copo de vinho
Derramado num golpe de choro
E numa lágrima triste a onda de maré de me dar
Como te pertenço até ao inconsciente de soluço
Já queimado, já gasto,
Lento e concreto,
Distante e nulo como uma mensagem de nuvem
Que trás o mundo na maneira de sorrir ao sempre
Novo amanhecer de alma.

Coragem

A coragem de leão ou soldado,
A vontade ou desejo amargurados
E cravo que perde e pende numa vogal,
Numa conta de rosário como abecedário de ilusões.
Repetir histórias como viagem ao globo ocular de infância
E nesta demanda perder certezas,
Porque a memória é indefinida,
Desmentida ou refutada,
Ofuscado ou aprimorada,
Leves toques de maquilhagem nos rostos,
Mulheres que esperam cansadas,
Esperam por ser dia, por ser céu,
Ser novamente cheiro que vagueia
Que pressente como comédia ou diário
Decorados no peito,
No faz de conta trágico e animalesco de todos os dias
Ou a brisa embriagada de nada ambicionar.

Caravelas

Altas caravelas de mar encrespado nas ondas de praia,
A linguagem é um piano de teclas de matines 
E corpos que sopram o conteúdos de dedos,
A manhã custa-me como cansaço ou força de lenhador,
Nada é traduzível no cheiro de letras num jornal,
De um café e um cigarro como se estivesse em Paris
Como se a importância de sinais de prazer fosse
Talvez o impronunciável
Ou a chuva de Agosto embaciado numa janela
E resisto a tudo,
A banalidade é importante
E a tosse e o espirro de conceitos
E a fanfarra passa,
O mar é algo que não domino,
Aprendo o ritmo,
Azul de imagem que fixa o momento,
Olhos vazios e tento definir-me
Como nunca sei aprender o meu drama.

Não Pensar

Sobretudo não pensar, 
Pensamento é já uma forma de pagar renda ao que não digo como mania do que não sei,
Entre muros de raiva e corpo demorado em sinais de fogo,
No que resta de mim pouco demoro a perceber,
A solidão é uma imagem que não sei o que vale
Se mesmo esta imagem a conheci de todas as formas e doente de imagem
A imagem nada vale na decadência de dor,
Flores germinam todos os dias nos jardins de alma,
Qual a razão de imagem?
Qual desculpa de processo,
Qual industria de manha com chaminés de poluído ar
Que traz vicio e destrói o que de alegre eu sou e mesmo isso choro
Na incoerência de filme que suga o sangue,
O suor de palavras que só eu sinto,
Na imaginação doente que esqueço
E retoma o sentido que morre apenas só.

Natal

É Natal no mundo de minha mão,
Meu enfeite de apontar o desengano,
Fui levar o lixo da emoção no contentor das ilusões
E ri-me muito como tolo ou criança perdida,
Em busca de nada encontrei-me carente,
Sem símbolos, marcas, sem códigos, nada,
Respiro o Natal como tantas vezes morri na madrugada negra de orvalho,
O presépio é um corpo que tem sombras
E ainda faz frio no amor de gente que se ama,
A serenata desenfreada no peito
Lembra que tenho um isqueiro com que acendo um cigarro,
Mais rotinas desiguais, mais solidão,
Não sei ler, não me sei,
A taboada, um isolamento e uma imagem,
Sempre a voz que segreda um tema de luz como vagabundo,
Coisas e reclames e a parede é infinita na morada
Que desiste, resiste,
Tempo de elétricos em Lisboa,
Tempo de ócio desamparado,
Esta manhã desapareço.

Cinema

Nesta viagem como despedir-me de ti 
E um soluçar embaraçado como cinema
De uma matine sem ninguém
Como se as cadeiras ocupassem os corpos imutáveis
De escuro e som numa parede
E ver sempre o momento,
O desconhecido do silêncio,
O suburbano, o enrugar de pele da tela e o écran táctil
E saber que é vão como desconforto quando acaba o filme
Como se as cadeiras sempre estáticas
E as emoções serem frias fossem um gemido de dor.
Não troco a ciência por ficção se me trocarem o motivo
De sentir, sempre eu no corpo de alguém
E esta doença que persegue o tempo,
Aguarelas e um fundo negro de queixume denso
Que respiro nas vértebras cansadas,
As velas de esperança guiam-me no fio de invisível
Domínio de sopro de navio
Que arde em tosco vento.

Tempo de Sacrifícios

As palavras gastas e melancolia do emergir
Neste mundo exausto, cáustico de pressentir
E se vou algo diz não
E se atinjo o alvo quem faz de idiota sou sempre eu,
A vontade indómita de reagir,
Abstracção de textos e sou eu uma cópia de vapor,
Presságios de perfume e tez de palidez que emite frequências,
Posso falar, acordes de sintonias,
Papéis em três actos
E as pancadas de Molière,
O som mudo de pele e um comboio de náufragos
E coletes já sem vida
No desatino de comer uma lata de atum
Como ceia de Natal dos pobres,
As estações são um frenesim de multidão,
Ninguém me vê,
Ninguém acende a minha vela de aniversário
Que contente sopro todas as noites
Como ilusão de ter sido dia como antigamente,
De ter sido eu que não sei quem de fogo queimo o casaco
E constrói-se o tempo das almas,
O tempo dos sacrifícios e pianos enjeitados,
Uma criança já não é criança
E um corpo é um cabide doentio que se prende num armário descabido,
Nada é talvez o processo de tudo.

Snob

Acendo a luz, que vejo senão sombras,
A labareda de imaginar, cosmos pacífico,
Três pianos de cauda e um leve assobiar,
Estende-se o corpo tentando o sossego,
Há à noite um gato que mia consolando o sonho que dorme,
O gato chato e a vizinha com uma mola de roupa
E demorei um relógio inteiro a concentrar-me,
Trouxe um rally de carros no copo de vinho do Porto,
A snobeira de Lisboa é marítima,
Ao som de máquinas articulo o coração que estilhaça vidros em momentos eternos,
Um quadro já nem soma ou subtrai equações de imagens por ser antiguidade por desvendar,
O vento é apenas vento como uma fala de egípcios sem amor ao tempo que corre,
Há um alçapão no contexto e um baralho de escadas,
Um ser que resiste e um acrescentar desejos como chave e cofre
Como rima e verso, conversa ou apenas um pássaro nativo de África.

Meaning

Nada é instinto, o segredo de ardil ou covil ou degredo,
Tudo é artimanha ou nulidade ou passeio ao desengano,
Em tudo vi pobreza, encerro o capítulo de sombra,
O medo de ser, talvez o meaning de significado,
Não me soube inventar, ser eu,
Não sei ser alguém se nem eu me sei.

Solidão

Lembrei-me e esqueci, mas demora, demora dizer adeus,
Não sei se posso perdoar o que não esqueço,
Tarde demais para me encontrar, não sinto,
Insiste a razão e a humildade de ser eu,
Não consigo ser o que poderia ser,
Ainda acendo manhãs inglórias para tentar sorrir,
Mas esqueço,
É complexo esta forma de nada poder dar
Com tudo o que não disse no movimento involuntário de ser dúvida,
Tudo é um centro, um desengano, toco o engano no coração,
Mas a viagem tem um começo, um principio
Que me precipito,
Eu sou um texto de palavras de romances e folhetins policiais
E sei que não sinto,
Caminho embriagado de tons de luzes e vejo o nariz respirar a solidão.

Não me Pertenço

Sei um verso puro que canto aos ventos,
Um frasco de memórias que diluo num sonho
Como andorinha ou pardal de corda,
Nestes anos trouxe um verso de amor no colo,
És um corpo de sinais que sinto perdendo-me,
A conquista desenfreada,
O Cosmos hoje perdeu-se em lume de olhar,
A vastidão desunida de tudo,
A armadura de pensamento que papagueia
Às cegas o ciúme, o delírio dos anos mortos,
Páginas de mórbida curiosidade de enredos e enganos,
Folheio os desenganos e um sentido chato como um derrame cerebral,
Tantos presságios e dores,
O fado das almas veste o preto do cetim,
A sala chora uns momentos,
Chora um exame, uma contradição de ser como fonte,
A inocência de olhar o verso e sorrir,
Espero o verso cansado das arritmias de tempos,
Espero sempre só e não me pertenço.

Mar de Calma

Foste embora, nada restou,
Um caminho de gestos, um coração latejando em obscuridade,
Os rostos desfeitos, um corpo que mexe em desnível,
Na noite dos uivos vejo a lua 
E medito em palavras que não pronuncio,
Não vejo e não sinto
Como pedra ou objecto, brinquedo
Ou jogo cego de sinais distantes,
Não esqueço a noite
E mergulho em sono de bafio,
Sono demorado e um dia igual de rotina,
Um carro passa e caminho em cores que murmuro,
A emoção transpira pelo sonho
E somo derrotas, subtraio animais em jaulas,
Faço contas num papel que desaparece
E tacteando o susto de eu ser outro
Desapareço na ambiguidade de olfacto
E presumir a dança das palavras
Que tanto me dizem como um cigarro que fumo
Na ansiedade e angustia de acto de loucura,
O corpo resiste eu não,
Luz que queima conceitos
E percorro a cidade de manhã à noite na impaciência de nada,
Leio a história de cafés que são memórias de acordar os olhos
Que custam o pensar,
Quanto custa o acordar dos olhos?
Quanto custa imaginar o símbolo oculto de paz
Que resiste ao mar de calma?

Acrescento

Neste acrescento de almas que nascem
Numa galáxia de mãos desunidas
Encontrei uma estrela desencontrada
De fábula de príncipe que lia a noite de seus olhos,
Num pranto a luz de cigarro meio apagado num cinzeiro de metáforas
O príncipe narrou a história de melancolia de uma treva
E de uma esfera e de um quadrilátero,
Uma centopeia desincopada aparou o medo
E trouxe um engano de espelhos e musas
Como um acto de olhar um homem sorrir
Ou uma estrela ser um conceito de luz que reina eterna na noite
De vestidos de monstros com cabelos despenteados
Nas manhãs que acordamos antigamente nos sonhos de cada um de madrugada.

Silêncio

Uma folha derrama um Verão,
Uma mão inconsciente faz um pranto de horas,
Desliza a montanha no fogo de imagem de um cavalo moribundo,
Atropela o senso e os prados são o negrume de cinza,
Despi o cigarro de horas e adormeci no pranto de nunca regressar 
Ao sorriso, ao encanto de sono e o traduzir a emoção em números,
Papéis de união e
O silêncio da personna non grata de olhar o espelho,
De tossir calmo e ler um enxame de olhos e narizes
Que focam um conjunto de filmes de movimentos,
Um mundo no azul e um azul no cupido,
No espírito a labareda do sonho ainda crepita
A vastidão de nota que troca a moeda,
Um café de segundo ou pauta de maestro que cegando
Rege a estrada,
O trono nunca está só,
O mundo é o que sonho na impaciência de ser humano,
Ser uno, ser inumano no afecto,
Ser secreto, adaga da madrugada
Que nunca esqueço
E a comédia é sempre um corpo que respira
O dedo que aponta o indicador de gargalhada
Que sei e apago e em minha barriga faço o folclore de alimento,
O pão é um meticuloso ardil,
O vinho vem agitando o desengano
De mulheres que alcançam bagos nas bocas dos homens que respiram Tédio de conforto.

Esquecer

Vou esquecer, perdoar, 
Já me basta a força que não tenho
Que resiste à análise, à vida de lamento
Neste arrastar de mágoas,
Não denuncio ou renego ou vou semear pânico,
O que tenho no meu peito é bastante forte para me manter são
Ao preconceito, ao olhar de lado ou ao que não fui,
O papel ou a tradução de papéis é incongruente
E em pleno teatro de morte meço forças com o oculto de minha alma
Que é tão minha desde que nasci, está intacta como sempre fui eu
E que quiseram deturpar como filme de qualidade duvidosa,
A solução de enigma está em mim mesmo,
Não peço nada apenas o que sou e me foi retirado,
A igreja fareja mas não domina o que na minha alma,
Chave de mestria de todas as portas de mim mesmo,
Canta-se o fado, dança-se folclore,
Químicos que copiam e um estranho filme de idiotia de repetição,
Nada é inglório e tudo perdoou pois eu sou eu
E eu sou mais que deturpação, mais que filme,
Nunca fui para além do que sou do os versos insinuam,
Querem papéis, sim, distribuo-os como vento,
Mas quebra-se a ilusão de filme que a razão me foi arrancada quando quis ser eu,
Querem mais papéis,
A confissão dos pecados que não tenho
Não está em mim mas em quem me quis mal
Como análise de sangue ou alquimia de vento
E a cabeça é um moço de recados,
Querem papéis,
Talvez se fossem vós mesmos
Ou no cinema de interrogação de mais análises ao incongruente de palavra de doença
Que é a fonte dos enigmas que não me pertence e ignoro no meu papel,
Pois doença é o espelho do negrume que não me pertence.

Profundo Sentir

Oh noite de mágoas de papel,
Noites cálidas que se dissipam no profundo sentir,
Que perfume de estação reina em tua prisão de momentos estáticos,
Que perfeito colar de retina de olhar se cola em mim neste arfar demente 
De pressentir que tudo cabe num já ter sido,
Numa ilusão que de pobreza se enaltece o espírito,
Por ser mais que isto,
Mais que real, mais que andar à deriva,
Mais que costura em boneco esfarrapado,
De beleza que perdura,
De sentir a perfeição do ser que
Escava a tirania, que percorre o gesto de sair,
Ainda a história não é concreta e
De ilusões como castelo de cartas,
A humanidade cai como fonte ou regato de voz que morre nos meus versos,
Espelhos de virtualidade,
A violência do lesbianismo na esteira de morder como calar
Ou no acréscimo de lupa ou chá
O coelho, o chapeleiro e Alice
Fogem para debaixo da mesa
Com medo de encolherem ou falarem com ninguém que ouve vozes pálidas,
No chá uma folha de treva,
As folhas de chá como são horas de erguer a luz
De afinal não haver tempo para correr até ao altar
Onde se benzem os humanos que olharam Alice,
Gesticula o momento de cumprimentar o destino que jaz
No engano de sorriso
Que colho de uma árvore,
Frutos maduros e ervas de assunto
Como um perfeito encolher de ombros
Ao texto que sai de improviso do
Papel de outras eras.

Lágrima dos Dias

Sou a emoção de pensamento na caravela de momento,
Alegria fugaz, corpo e espaço,
Nada me conduz ao inicio e ao que termina,
A ciência de mudez quotidiana
Nua como pele e sorrir que choro,
Acenar ingénuo e inglório,
Atravessar o cupido de asas de santo
Ao franzir uma sobrancelha,
Nunca fui igual ao que sou,
A pauta das equações na palma da mão,
Lento e atento como punhal,
Dois olhos de choro,
O meu mundo de papel,
Vagueia como barco como corpo desatado,
Sucumbirei no negrume,
Lata de conserva de aprendizes de feiticeiros,
Honesto em minha mentira
De pássaro de horror que se traduz
E se transforma em lágrima dos dias.

Poema Nada Diz

Sou só eu, 
Nada mais e somente eu,
Esqueço contrariedades e isto e talvez e assim como emigração de azul
De nuvem de cetim num imenso céu,
Nestas entrelinhas tantas história,
Tantas caravelas cansadas e madeixas descompostas
Na marginalidade de um assobio de infinito,
O poema nada diz,
Sou escritor de emoções que não sentem,
A alegria tatuada em mágoa,
A prenda de envenenamento e sorriso etéreo,
Não sou feliz,
Nada me obriga a cumprir papéis,
Não me pude cumprir,
Não pude ser eu mesmo,
Vou juntando novelos e segredos e degredo,
Nada me trouxe ao lamento senão uma sugestão
E neste amaciar de dias um destino como acaso
De vontade que não sei que ilusão
Transporta.

Símbolo

A magia de símbolo é a metamorfose do sentido 
Que arrisca a forma de tudo ser uma visão de acreditar 
Que faz sentido o verso de enredo que oculta máscaras,
O templo contempla o tempo
E o perfume de cinza num segredo de barro
Talvez ateie o que a percepção não entende,
Sempre o tacto e o presságio e a voz inumana de união,
Já ouso a palavra de fugir ou esconder,
Já cabisbaixo ao conteúdo de eterno aprendiz de imagem cega,
Rio de anos extenso, a memória branda de pele
Como alquimia de palavras esdrúxulas
Num caderno de Verão,
Numa bicicleta de embaraços,
Numa fogueira de alarido ébrio,
Numa cadeira em cadeia serrada
Na face de poeta oculto em embriaguez.

Enfim Vago

Ao ler o que escrevo a morada do mocho,
A luz baça de um livro desbotado,
Um corpo morre,
A energia esgotada por pensar e forçar o inexprimível som de acaso,
Na temperatura de polegada
A imensidão de vento e uma flecha no amor,
Neste embaraço de letras como uma mordaça de tempo de traduzir acasos
Como fados de três cores,
A magia ainda não trouxe a luz,
Ainda não corri em praias de faróis que soluçam a maré lenta dos anos pacificos como naus
Como o que não se diz e se pensa
Como a corsa que foge na bruma,
A trazer a conquista de caçador no peito de leão,
Amor, não alcanço-me,
Nada traduz frutos e espíritos,
A chorar contas e perdões e degredo
De escadas e uma estrada que morre na voz
De abelha e de espinho
De tanto que nada de tudo que enfim vago.

Verso Cansado

O tema é mórbido como negação de diário,
Acho-me por vezes no momento em que toco um nervo,
Na investigação há pássaros e navalhas que luzem como presságio
E no registo cómico talvez encontre o riso que escapa como sinal
Do que me mantém vivo,
Há muito deixei de sentir,
Planícies de emoção quando de mim me desencontrei,
A linha da vida dividida como ardil,
Animais ofegantes de sentidos,
Não trato o que recuso e nesta monotonia
Talvez descubra enfim o repouso que amanhece em decadência,
Apraz a ignomínia,
Soluço no verso cansado,
Quem ousou me profanar talvez pense duas vezes,
Quem de mim ceifou o momento vida talvez olhe na janela
Todos os brinquedos de criança,
A imagética imaterial da cor
É um dedo que cresce como indicador percorrendo maratonas
De viagens ao sono,
Ao ser gente que rompe no sonambulismo de vida que esgota a conversa
E a poesia é a vida desencontrada no que não digo.