quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Adeus

Sim, é hora de me afastar,
De ir embora como animal escorraçado,
Que pressente perigo,
Fugir, porque não?
Se tanto já me rejeitaram,
Se tanto que já me habituei,
É apenas nova madrugada, dia, noite.
É tanto escuro, 
Tantas cinzas em vogais de desespero,
Letras em uníssono dizem adeus,
Não me despeço, para quê, 
Já me fere o mórbido sentir,
Se passado é o que vejo em memória doente,
O momento é triste,
Mera decoração de mentira.
E o sentimento, o verso, o entardecer.
Vou-me embora como o vento gelado da manhã
Que corta o amor, o desejo, o controlo,
O justo, o injusto, tudo se funde
E conservo-me no saber,
No que sei e sinto
Que um dia talvez sinta o valor de ser o que sou,
É talvez Deus que fala comigo em desmaio de luz,
Desilusão de realidade que recebo em sonho,
Adeus.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Demora

Se quero o que não tenho
E já não acompanho a demora,
Ansiedade de estátua nocturna que repousa em horizonte da manhã,
Sou eu que venho caminhando, vagamente e me persigo em delírio,
Não me lembro muito bem como, 
Dor de êxtase em assunto mórbido,
Tráfico de corpos que não amam,
Solidariedade num maço de tabaco,
Há discursos na televisão e não me lembro do real.
Como é engraçado o frio que veste roupa
E despe o senso comum.
Não descubro o acontecimento,
O relógio do imaginário insiste em perder o que já não é visual,
Não é nada.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Recordação

Amor, não olhes ainda,
O escuro não me deixa ir sem uma luz na claridade da manhã,
Vejo só a tua sombra,
Em mim uma cruz.

Sei que a emoção acalmou
E a vasta recordação é o meu futuro.
Encosto-me em paredes,
Tomo cafés, fumo cigarros
E devagarinho a tua memória
Como sensação a tocar a sentença
Do que me espera.
Despeço-me, peço perdão, auxílio de ti,
Memória, palidez, surdina de rosto,
Lágrima, 
Desilusão que vagueia distante nos meus passos.

Sonolência

Encanto de figura que me olha,
Me vê como sou, sem mais nem menos,
Somente eu que mostro o meu ser.
Eu não me sei de cor,
Em mim um acontecer que não domino,
Não vejo imagens ao espelho,
Tudo é cego no meu ver,
Tateio a emoção tão longe de mim
E desapareço em noite,
Ofusca a luz, o brilho, a ilusão,
Certeza de dúvida,
Imaginação de delírio,
Mãos sangrentas em meus olhos inocentes de razão,
Um silêncio que me cerca, mente, desnível, estradas azuis,
Objetos de segredo, pedra de cimento que seguro,
Vício de me conhecer, 
A roupa veste a calma de segundos
E, então, abandono o sono e deixo de me reconhecer.