quarta-feira, 7 de março de 2018

Voar

Em pleno desejo de voar, de estender o corpo,
Erguer a estátua indizível ao suspiro de força animal,
Heis-me neutro e pluma ou irreal como sonho,
Toca-me o rasto, a passagem de ser outro,
Como um rio lento ou contraste de faces planas
Na paisagem que adormece no meu colo infantil,
É um manto de estrelas a maga superfície de ler,
Ainda o enredo de cetim manso e rente que escurece em cor escura feita de silêncios
Como reconhecer o faro que se distancia no mimetismo de cidade corpo
Ou alma trémula na sirene de planicie de afagos e palavras que se derretem em dor,
A pétala inicia o conforto e cheira a maresia a manhã,
O tempo morto enredo de segredos e falas mansas
Aprende o vício de mãos em pensamento de luz ténue
De sorrir ou evitar o chamamento de instintos mórbidos,
Tomar café e perder mãos agasalhadas em frio de tremer
Como fala estonteante, a cor rude de aprender a mudez.

Futuro

O futuro encarcerado em vozes e máscaras, em pele, nervos, sentidos, 
A visão de estudo rude, 
Processo em silêncio e mácula,
A treva irreal que encerra a peça em frenético desatino
Como um deslumbramento ou idiotia trivial, desencanto
Ou leitura de enganos, quando pouco ou muito se equivalem,
A subida na escala que cai no precipício,
A luxúria casual, a alma e seus vários planos,
Andar fugindo, fatigado de ventos e ferozes assuntos
Que calam a passagem do tempo, a fraqueza e a aspereza,
O conforto que dói, isto que nada acalma,
Resistir no conteúdo e dormindo na história, o jogo das palavras,
Contando gestos, a preguiça de acordar,
A idade que escapa, o acto ou desato,
O café que ainda lembro,
O Inverno que descubro lento ou teatral de crescer,
O toque na perna, o piano residual que ouço ao infinito de me perder,
O palco da palavra que conversa e o encantamento de ouvir a árvore e suas folhas por dentro,
A planície da descoberta,
Roupas a um canto do quarto ou convés e bafio,
O folclore diário, o riso e seus derivados, um grito, um copo na estrada, um baloiço,
Um drama ou folhetim ou a calma de evitar,
A ciência da escolha ou o momento neutro de casulo
Que encerra o capítulo de estudar olhos atentos num livro de almas
Que por vezes faz o corpo respirar ou perceber que nunca estamos sós
No início e fim de acabar.