sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Tantas Vezes

Tantas vezes te tentei alcançar,
Tantas vezes,
E fugias veloz
No enredo de ocas, cruas palavras
Que não eram tuas,
Não sei quem eras
E o que vias em mim
Quando me olhavas no espelho de meus olhos.
Estonteante, fugias por mundos vãos
E eu a teu lado,
Ingénuo, a perceber
Qual o livro oculto
Nas palavras que dizias,
Qual a personagem, que filme,
Teatro de nudez,
Que roupa usada,
Qual a cor desbotada de verso,
Paixão surda de olhos
Que não viam o meu olhar.
Em mim a imagem que focava
O que era recordação dos teus olhos
Fixos nos meus,
Que não me viam,
Mas que ficaram presos nos meus.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Em Meu Nome

Em meu nome circunscreve-se uma imagem de acontecer.
Sou ave que voa ao Sol da manhã,
Exacta nas iniciais de meu nome.
Ganha cor, corpo e desaparece
Na essência de realidade que grita,
É alma de espanto, coragem,
Sem idade e cruel
Na biografia que se escusa e se anula.
Há uma procura, uma busca
Determinada em captar a sombra de momento.
É como uma viagem de Verões passados,
Recordamos vagamente os locais e algumas emoções
E desejamos, temos saudades de algum dia regressar.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Em Meu Corpo

Em meu corpo vive sepultada
A mais nobre e trágica memória de mim.
Leve instante em que percorro pés, mãos, olhos,corpo
Do passado 
É agora
Imagem transfigurada,
Não revela a serena, sagaz beleza de então.

Há silêncios mórbidos,
Há desilusão no pensar,
Esquinas atrozes de afectos
E receio, medo de ser eu próprio
Na lembrança de quem já fui e me perdi.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Palavras

Engraçada forma de compor palavras,
Contar histórias de poesia,
O coração sente,
As palavras emocionam,
Sente-se o respirar em cada trova,
Em cada verso.

Encontro o significado
Em olhos que choram
Nas palavras que escrevo.

Acarinho,
Com as mãos nuas,
As palavras despidas,
Corriqueiras,
Como endereço do meu sentimento.

Vastidão de Sonho

Há sol, há festa,
No meu corpo um festival colorido de pensar distante,
Sons de incoerência,
Dia de capas negras,
Imagem de morte.
Recordo essa imensidão de dia
Que transformou o calendário 
Em dia de eternidade,
Descida ao Inferno do contentamento.
O meu ruborescer de ideias,
Tudo o que é vida,
Maturidade ou verdadeiro sentir,
Em vastidão de sonho que nunca vê a realidade.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Destino

Entardeço em voz que emudece,
Ando solto em ideias migrantes,
Como pássaro de fogo
Entrego a correspondência do Sol
A praias inabitadas,
Só eu me conheço,
Mas não me entendo,
Faço do trivial conquista de saudade
De repente um novelo de lã
Prende-me a árvores
Do anonimato,
Os meus olhos de ritual de manhã
Lavo ao espelho
Que lê a minha imagem
E é como febre aquilo que sinto e vejo,
Uma amálgama de sensações ao tomar o café matinal
E mais solidão e dormência do sentir
E mais artifício de vontade,
Cada dia é morte física, moral,
Com âncora em emoção de destino que não entendo.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Longe

Cheguei de longe
Enamorado por ninguém
Com esperança em janelas de olhos
Que não viam senão passado
De não sentir desejo,
Certo desdém.
Apareceste,
A música começou leve, ritmada.
Vultos apareciam tal como sala de cinema,
Sem cor nem tema,
Lotação esgota,
Filme invisual,
Sorriste e eu disse em segredo
O que não ouviste,
E voltei para casa
Sem antes me olhar no espelho da memória,
Que com a minha imagem destruí,
Desfez-se, partiu-se,
E eu colei os meus olhos
Em papeis de gatafunhos,
Colei-os em mares de pescadores de almas,
Em horizontes de luz, noite,
Colei-os em mim.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Destino

Pó de destino
Distante, ausente,
Mas real na morte de emoção tardia,
Símbolo de cemitério de corpos
Na inconsciência alheia
Ao amor,
Arrastando o verso, enredo, o mar.
Maníaca condição de Destino,
Pássaro esvoaçando pelo sonho,
Pássaro esvoaçando solto pelo ar.

sábado, 10 de agosto de 2013

Noite

Noite, trazes-me o teu enorme lamento,
Em sereno deslumbramento
Que me deixa sem matéria,
Sem palavras,
Pois tu tens silêncio
E insistes na escuridão
Que a minha alma,
Ao teu redor, se enreda
E se entrega,
A ti noite,
Na minha mais temente
Jura de absolvição.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Sentir-te

Relembro o amor 
Em noite a amanhecer,
Quando o som de almofada,
E as curvas dos lençóis
Te desenhavam a paixão ardente
No teu corpo, na tua face
Tão delicada
Que julgo não haver comum mortal
A ousar a singeleza de morrer de amor por ti.

Enredo

Esta aflição de batalhar tudo e todos
Este desconforto que me tolha a vista,
Entre poemas de amor e solidão
Fico entre o humor que faz de vítima.

Não sei teatralizar-me em papeis que não são meus,
Sou personagem irreal a olhar para o nada,
O enredo não me pertence, o filme não sou eu,
Realidade nocturna que resvala em orquestra de alvorada.

sábado, 3 de agosto de 2013

Ausência

Uma noite de escuro, 
Cores que falam no ambiente,
Turbulência,
É perder a alma 
E agarrar a intensidade do momento
Num círculo de multidão de ausência.
Corpo que desafia o espaço,
Delírio de secreto gozo sem culpa ou perdão
Em indefinidas, inconstantes miragens
Que a música faz ao inconsciente
De olhos semicerrados
A olhar o que falta ainda por traduzir,
Invocam-se espíritos de outras eras,
Inventam-se histórias inconclusivas
Em marés de ondas,
Viagens ao processo de sentir o trivial
E, por fim, voltar a casa cheio de nada.

Composição

Encruzilhada de versos, enredo marginal,
Solavanco de magia, cinema irreal.
Em composição enredada em inércia
O assunto muda, vice-versa,
Olha-se para o campo, para o ar
Que é mesmo ali à mão de semear
Com olhos vazios, cheios de nada
Acendemos o conceito de nobres palavras
E a acção muda de pessoa,
Muda o sentido, a direcção,
Mas acaba sempre como começou,
A tragicomédia do absurdo, da negação
Como filme de Chaplin
Ou livro de cabeceira
Que adormecemos
Em palavra de poeira.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Eterno Regresso

Vou começar a minha viagem
Interior ou exterior,
Tanto faz,
Viagem de fotografia,
Texto em verso,
Poema de afecto,
Bengala de memória turva
Em oceano de noites bravas
Que descubro no meu entender de observador
Da imagem que ficou.
Foto, imagem de ser, de pertencer.

As noites são escuras e não se recordam,
Impulso de cores,
Magnetismo de olhar em frente,
Mas marginal e autêntica
Na sua maneira de se confessar,
De se materializar
Em aceno a um barco que navega
À deriva no mar.

É instante que dura o tempo
Necessário para acertar relógios,
Despedida que faço da saudade
Do tempo que foi
E dura o tempo de canção que escuta
O processo de ter sido
E não volta atrás na pauta de música.

É um eterno regresso,
Tal como um livro impresso
Em virtual memória de palavra
Que discute o preço,
Pregão de varina,
Ou um bilhete de namorada há muito tempo na gaveta.