sábado, 26 de outubro de 2013

A Flobela Espanca

Tal como sonho
Esvazias a vida adormecida em ti,
Insónia,
Palidez de manhã,
Pranto de pomba branca,
Mensagem delicada,
Noite, trazes o teu manto de absoluto
Em enredo de vício, de eternidade.
Pétala de ilusão
Desfolhada em encanto de alma,
Flor de sangue
Que se esvai,
Desmaio de emoção,
Pranto, desencanto,
Mórbida vida,
Defunto momento,
Mente cega, distante,
Medo de cada único e solitário instante.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Trôpega Realidade Manifesta

Magia de afecto
Mascarado em silêncio de nuvem,
Som de Universo.
Tudo o que existe é meu
E tudo não me interessa,
Jogo infantil, programa que distrai,
Mas em ondas infinitas de ser o que pareço,
O que encontro nos outros é o mesmo desnível,
O mesmo desdém,
Não me dão o sentido, a abstracção
Que preciso para me afastar de mim,
O que não gosto está no remédio metafísico
Da ciência, do fugir a convenções,
De fingir o verso,
Sou eu, esgueirando em surdez,
Lamentos de infelicidade,
O peso da palavra não imprime o que quer dizer,
Não acredito em palavras sons,
Palavras cor, palavras quiméricas
Assimétricas,
O abecedário de sensação
Que deito fora em gestos
Para ter mais sentido no que digo,
Acredito em almas que pairam, esvoaçam
Conceitos, decifram o oculto, o orgulho
Traduzem a semelhança,
Mas palavras não dizem nada,
Só creio em desilusão de transparência,
Inércia de acção,
Trôpega realidade manifesta.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Longe

Saudade que não me conduz a nada,
Só o mimetismo de presença física
Em pensamento que me rodeia,
Mágico assombro,
São chamas de tenebrosa maldade
Que incendeia o vão conhecimento, a experiência, o medo atroz...
Não quero o sonho, não,
Por favor tirai de mim o feitiço
De repetição de vício
De me procurar em multidão de almas
Que dormem em meu olhar.
E não encontro o prazer,
Só a dor arrastando o seu riso,
Transfiguração, música, cinema,
Loucura que veste a nudez de símbolos,
Estranha glória de perder o que ganho,
Gesto do absoluto em pecado cinzento
Como aura a pairar em ondas de estilo,
O meu fado é lúgubre
E é sempre o mesmo aceno ao absurdo,
Ao fascínio, ao mistério
De buscar a alma em ser que desconheço,
Não aconteço, desespero,
Saudade que é ilusão,
Deus diz-me qual o caminho a trilhar
Que o perto perdi,
Só o longe persiste em ficar.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Fantasia

Quero o rugido do leão das savanas,
Traduzir o seu felino andar
Em escrita de movimento,
Quero o dia que nasce na
Luz de caneta sobre o papel,
Gesticulando a aurora,
O leve orvalho em plantas,
Vegetação da memória impressa em mim,
Na eterna descoberta
De sentimento,
Amor de magia impressa nos meus olhos,
Borboletas de fantasia, de imagem irreal.
Quero a cor translucida em minha alma que foge,
O corpo deitado em cama de açucena,
Plácido como horizontes de calma
Que tacteia o oculto,
E se alheia de orgulho de pertencer,
Esconde espelhos para não ver o deserto de vulto,
Divagação de texto que procura vida e
Encontra intelecto delírio no real,
No bater de asas de pássaro no céu,
Nuvem, Sol, astros desconexos.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Frívolo

Um candeeiro numa qualquer sala,
Sono em redor num quarto,
Janelas com persianas fechadas,
Há uma conversa ao telefone,
Não se percebe quem fala, o que se diz,
Eu anulo o ser, o que sou,
Deixo de ser,
Fico distante de tudo
Estando, embora, concentrado
Em sons de aranhas, insectos,
Sons de parede, de Universo,
Ouço-me em memória de pensamento
Tão nobre e isolado,
Não me recordo do que penso,
Perco a memória
E desligo o ter sido
Ainda presente no que penso,
No frívolo sonho de outrora que sinto.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Crente


O teu olhar vago, triste, cansado
Conta uma história ao negrume de minha alma,
Vendo-te como és, cândida e celestial
Faz-me querer-te como crente devoto,
Anjo de superfície terrestre,
Hóspede estrangeiro da semântica da tua imagem tímida, terna, meiga
Que repousa nos meus sonhos de sensualidade,
Acende-se a ilusão de serena felicidade
Faz-me esquecer a saudade
E acaricia a minha fé em ti,
Gentil sombra de bondade,
Terço rezado em igreja abandonada
Que pede o teu amor,
Entendimento de corpo
Que pede o consentimento da verdade.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Guião a que me Confesso

Num recreio de nomes e canções ouço o burburinho,
Algo que se passa,
Eu enegreço a tarde e ouço.
Em mim uma fútil timidez,
Um pouco que me dou,
Um muito que acrescento e pressinto.
Multicor de multidão,
Um sinal de passagem,
Semáforos,
Carros e pessoas e gente e
Conteúdos que perdem o seu valor,
Um rádio que se prende a ouvidos
E ter tudo como letra ileterária,
Perder o preço de palavra,
Subir as escadas, muros de sons graves,
Pesados, agudos de doer,
E, desintegrar-me na onda do vermelho,
Esconde-se por detrás do meu sentimento
Tal como processo oculto de voou de pássaro do irreal,
Pássaro do retrocesso do eterno e sereno guião a que me confesso.