sexta-feira, 4 de maio de 2018

Enigma

É irreal a passagem ao ritmo,
As palavras abandonam-se como secreto delírio em céu ausente,
As horas passam lentas ou falsas como riso louco,
Quanto custa o enredo de perder simetrias de ousar o sonho,
Em trajetos de ironia ou simular a ciência fria de abandono,
Nisto que resta, o drama ou comédia, a ilustração,
O jornal lento, a janela dolente ao conteúdo que irradia luz
E conceitos como sombras ténues
Que decifram o código que faz a história
Como profetas em simbioses de luz,
De dizer isto ou aquilo ou algo esquecido
Que deciframos ao rasurar em muros de passar os olhos
Que rodeiam o quotidiano igual em falas de ombros embaciados
No cambiante de roupa e manhã igual a tantas outras
Como jogo enigma ou reconhecer a alma parada.

Ritual

O negro invade ao de leve a calma,
É pesado o festim, o horizonte, a nuvem,
Andrajoso clima de cimento e faces planas como riscos nas folhas de árvore,
Em breve a ciência de fugir, em breve somos nós a paisagem,
Descer o rio, sentir a tempestade, vestir o fato rasgado,
Fazer sinais em relevo nos lençóis da manhã,
Porque faz frio crescer e descrever e entontecer
E tudo cantado em pautas que não vemos
Pois estamos em união no tempo que se desfaz no grito.
Abrir a janela, ver com consoantes e vogais e pássaros de corda como sonho
Que embevecidos de maresia professamos nossa alegria de ritual diário.

Ao Vento

Ao vento, longe e perto,
Ofegante e sistemático como prado de ondas que param junto de mim,
Laivos de robustez e idiotia que foge rente aos pés,
Nada é infinito, nada pára o tempo e a casual fuga de sons milimétricos que cismam a união,
Mas entender o plano e a superfície e o acaso diminui a alma
E enredos e trâmites e carapaças e animais marinhos vêm aproximando-se mesmo lentos de rastos breves na pradaria do sonho,
Tentando o físico, a calma, a paciência e o enigma como plantas na varanda do espaço que abranda o ritmo,
Carros e fábricas, palavras simétricas e pesadas caem no lento café
E acende-se o sentir e a música imita ambientes de murmúrio e bafio semi-lento e estático como um barco perdido na memória,
Cálculo de sinais emigrantes de sentido que resmungam ao ouvido.