sábado, 28 de setembro de 2013

Monotonia

Indizível a monotonia ser assim triste, só,
Como a leveza de alma que me sustem,
Embaraço de realidade, ser além,
Não tenho a destreza de vida,
A lacuna, o ficar aquém.
Mas tento,
Não paro esta dor que me corrói,
Me detém.
É mola de roupa que me prende à corda,
Limbo de nulidade,
Peças microscópicas do que sou e que analiso à luz do dia nascente para saber se sou eu,
E não gosto, é nota desafinada,
Maestro sem orquestra,
Indefinição,
Planta,
Destino de abandono,
Ser ninguém e nada e
Tacteando a emoção e não ver,
Pois nunca vejo o que se passa para lá do que é o verdadeiro eu.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Telegrama


Longe de mim o rubor de face de outrora,
Compreender o que digo e saber o que quero,
Viver uma vida de quarto de hotel numa cidade distante,
Escrever memórias do entardecer, do desfalecer,
Fechar os olhos e ouvir o som que me rodeia,
Ser alguém diferente do querer ser, do ter sido, do que serei,
Pintar um quadro com o nariz, ouvidos, pés, mãos,
Coser uma colcha no tecto,
Questionar o que me falta, o que perco, o que me rodeia, o sol, a areia,
E o uivar dos lobos que ouço, ao longe, da minha janela ,
Ter tudo e perder-me no que ganho, no que empresto, no que dou, no que devolvo,
E depois o verbo acabar que tento evitar
E depois o amor partilhado até ao último Inverno,
O soneto que contraria o instante,
O concreto, o delírio, o abstracto, o nexo,
Fazer da minha imagem telegrama em verso
Com rugas de emoção em cara imberbe de velhice,
As horas em relógios imprecisos,
Operação que faço todos os dias à razão,

À mente, ao calendário de ser
Que arrasta a corrente
E não sei como se enreda em mim.

Não Encontro

Não encontro, não me acho,
Inútil imagem, sábia noite
De desencontros.

Pertenço ao ar imaterial da manhã
Que passa por mim
E segue veloz para longe
Sem deixar recordações na paisagem.

O Sol macio tacteia a pele
E queima a sensibilidade do tempo,
Tatuagem cúmplice que me escapa.

Eu estou preso no devir, porvir,
No silencio acto de desatar a filosofia
Que insiste em se demorar.

Sereno, em paz,
Mas feroz no fogo de emoção,
Na demente fuga a enredo
Que vagueia, assim, como nada.

Alma que foge brevemente
E alcanço em abraços
Frementes em tonalidade
De desilusão e amor que
Os meus olhos não vêem,
Não sentem.

Tragédia

Alma de poeta,
A vida parada,
Sou eu imenso em solidão 
De realidade transfigurada,
Aceno de final de tarde,
Tudo por vezes não é suficiente,
Não acalma, 
Inquieto espírito,
A luz do meu olhar 
Faz uma oração aos dias que me seguem,
Persigo nesta minha solidão
Em mistérios, mapas mentais,
Mas algo me mantém inteiro
Ao momento que desfaço tudo
E me ergo de novo,
Como vagabundo deixado ao acaso
Num sonho de paixão esquecida
E choro-me por sentir que nunca
Hei-de conseguir partilhar,
Ver para além do que há de mais complexo
Nesta vida de luz, trevas,
É sempre noite quando finda o encanto de tragédia.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Vem

Vem comigo,
Tu, eu e o horizonte,
O Sol e o vento, mar
Vem,
Vamos ver a praia e as ondas,
E não me esconderei em desespero,
Trago tanto mau estar na mente
Que como imagem de Inferno
De nada me serve,
Vem curar-me,
Faz-me festas no meu sentimento,
Faz-me de novo sorrir,
Não pensarei no sagrado,
No profano,
Pois estamos aqui os dois
A olhar o mar,
E que serve o mundo
Quando te dou uma flor e tu
Nada dizendo olhas-me e
Também me sorris e
Sem palavras apagamos os versos deste poema
E eternizamos o nosso olhar nas estrelas do nosso amor.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Palavras

Palavras
Despovoadas de conceitos, racionalidade
Ou juízos de banalidade do comum, do trivial.
Só com argumentos de palavras
Que vestem a realidade
De cores neutras, cores de mar,
Elementos de assunto que dispo
Peça por peça antes de me deitar,
Para acordar os sentidos em sono 
De poder à noite me entregar.

Aconteço

Aconteço, 
Vivo ou morto,
Causalidade, por de Sol,
Anoitecer,
E fecho a janela
Ao que fica distante
E me diz tanto,
Minha imaginação
Que recolhe, selecciona informação
De tudo o que é meu
E não vejo.

A história é imanente,
Tudo o que recordo
E até o que esqueço
Me é revelado
Como sonho de quadro inacabado,
Pintura de momento,
Emoção calada, desencontrada,
Mentira ou verdade funde-se
Em discursos sem fim,
Olhos que me fitam,
Que têm razão
E liberdade que escuta o bater do coração,
Sente a pulsação
E me diz boa noite.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Ave

O que é feito da tua liberdade, pobre ave?
Sobressaltado, dizes: 
"Sim, está tudo bem" a um espelho de imagem cega.

"Falta-te tempo para seres feliz,
Tens medo de ser quem foste
E por mais que batalhes nesta fria e constante
Guerra do poder seres quem és,
Sei que vais perder tudo o que há em ti".

Agonia por mais um dia desperdiçado em cogitações sonâmbulas,
E João onde estás tu?
Estás na face que te deram?
Estás no nome que é teu?
Estás no que pensas ou no que dizes?

Que é feito da tua liberdade, triste ave?

"Queres fugir mas estás preso num deserto de miragens,
Impacientas-te se sozinho estás,
Não és tu quando finges que és alguém,
Queres desistir em todo o teu esplendor".

E este poema em jeito de desamor
Não poderia nascer sem uma flor,
É ela que te dá vida, coragem, amor
Que num segredo guardas no teu rubro coração,
Paleta de pintura,
Cor de emoção.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Acabar

Chegou o dia da minha vida,
O momento eterno de pensar,
A hora que não é certa, 
Teima em se atrasar.

Eu ficarei entregue a este sucumbir,
À longa forma de me perder,
Rosto, desilusão,
Acaso, coincidência ou carro com faróis acesos
No meio da noite que me deixa cego,
Instante de dança,
Crença de amor destroçado,
Resistência de corpo.

Sou eu teimando em rancores,
A libertar-me de ausências,
De regras, de fome, de pertencer, de voar.

Tenho lágrimas no sentir,
Nevoeiro em querer ficar,
Mais eu, e tu e tudo
O que não se diz,
Se arrasta no meu pensamento
De inclinação, escavado, nu, gasto
Que não confio, não consigo calar.

No passado aparece a ficção
Em presente que construo
Na mente de barulho,
Não me consigo libertar,
Desejo a fuga ao sonho
Que para mim é real
E é tão escuro e real o sonho
A imagem é sã,
Os meus olhos sentem,
O vento sopra veloz em cadência,
Transfiguração de dormir,
Não sei como começo,
Não sei como vou acabar.