sábado, 29 de novembro de 2014

Caricia de Versos

Os versos ziguezagueiam entrelinhas,
Entreatos,
Fugazes, maliciosos
Como corda bamba
Do que mais genuíno e atroz se faz por cá,
São cores, madeixas e corpos nus
E o Universo é uma dança,
Estrelas e astros
Como correria louca pela solidão
Para me alcançar em braços sórdidos
Ou carícias descontentes,
Este pensamento é a minha alma,
É tua, dou-te embrulhada,
Metamorfose do que entenderes,
Acaricia os versos,
Leva-os pela cidade
E deixa-os em multidões,
Abandona-os nas tuas frustrações,
Sê animal.
Só se vive na ignorância,
Quem somos nós senão espelhos,
Que renascem velhos
Na eternidade dos conceitos, preconceitos que se perdem aos poucos,
A minha missão não é nada,
O futuro é uma amálgama de sereias,
Uma tarde de copos,
De corpos,
Ondas desiguais de memórias que me guiam
No processo da trivial tradição
De voltar ao mesmo sitio onde se nasce
E onde vou desaparecer.

Suave Deslumbramento

No teu silencio há luz,
Há sorrisos,
Estátua indefinida sem movimento de tão belo o tempo a olhar-te,
Uma corsa, talvez réptil ou aranhiço,
A natureza imita-te,
Noite de bruxas,
Encenação,
És livro com palavras que dizem junto do meu ouvido
Tudo o que sonhei ouvir,
A estátua intocável do sonho,
Voam os anos,
O vento dos dias não se vêem,
A dor de te imaginar,
Garras da memória,
Suave deslumbramento o que sinto.

Dor de Pântano

Sempre a mesma lucidez irreal,
A luz aparente,
Encenação de cigarro na calada da noite,
Um miradouro sobre Lisboa,
Que perdição...
A forma lúcida das formas circulares de fumo na calada da noite ,
Um gemido aparente de dor
Neste jeito de gemer calado
A angústia do escuro pensamento circular,
É perpendicular na manhã que atravesso no sono
De minha vida.
Linhas escusas, serenas e toscas que não compreendo,
Maldito destino,
Desdizer de sonho,
Aprender a lição sem regras
A dor de pântano.

A Incerteza

Desejo a ambição de saber,
Conhecimento desmedido de alma que sofre,
A incerteza desta vida lenta,
Fico na calada da noite, 
Em memória e sinais,
Fico indistinto na dúvida,
Na incompreensão e incerteza
De ter tempo contado como segredo e degredo
Na palma de minhas mãos.

Meus Olhos

O espelho deformou o reflexo
E os olhos que vi no momento que olhei
Eram os meus,
Toco ao de leve a imagem,
O contorno do olhar, o seu jeito,
Mansidão que contempla o vazio do ser,
Olhos calmos que no espelho de alma
É a maneira de dizer que te amo.

Começar Por Te Dizer

Começar por te dizer,
Assim,
Nesta maneira de apaziguar esta solidão,
Somos apenas pessoas sós parecendo felizes.
Somos nós mesmos,
Sós,
Partilhamos ambições e sentimentos,
Adormecemos acompanhados e vazios.
Damos as mãos,
Acariciando os dedos ao de leve,
Sufocamos a paz,
A tua mão é a fronteira de felicidade
Nas linhas que reconheço da palma de destino
Como rede impressa na tua mão.
A linha da vida de tua mão na minha,
És real.
O coração bate certo
Por entre as artérias de meus sentidos.
És minha definição,
O que quero dizer e sentir
Neste momento de emoção
De te olhar e te saber minha.
Habitamos rituais despidos,
Habitamos amanhãs de incertezas.
Tantos enganos,
Tantos amanhãs no calendário de todos os dias.
És o meu verso de prosa e alegria,
Ontem sonhei-te,
Acordei a realidade
E despedimo-nos de nós na inocência,
Na incoerência,
Na virtude,
No pecado de desejo,
Meu delírio de amar o Universo,
A tua nudez,
Presságio de te bem querer para sempre.

Espelho de Alice

Tantos anos como indiferença de dias planos,
As lágrimas brotam de uma fonte de desejos ,
Flores ao vento e pensamento,
Há muito que sou estátua de jardim,
Pessoas e crianças passam por mim
Felizes por se acharem na alegria comum,
A lágrima do sentir é ténue,
Desdobrável, folhas de livros de pétalas,
Vou desculpando a vida,
Apago uma estrela e ando em frente ao abismo,
A calma de ser só eu,
Múltiplo de nós,
Com sonhos e cabeças flutuantes.
As desculpas inventam perdões,
Sou mendigo de imagem
E quase evito sorrir
Ao espelho de Alice,
Tento apagar números e subtracções e câmbios
Do infinito,
Nada é substituto de si mesmo.

Noite Escura

Foi isto a maneira exacta de momento parado,
A cabeça move-se em sintonia em corpos dispersos,
Semente de ócio e tardes lentas
Onde cansaço é vida e vida é uma paleta de cores já secas no retrato de meia noite,
Se escrevo o retrocesso vejo o mundo em progresso
E eu estagno em dor.
Andei muito, tão intenso,
O coração extenso e a solidão um barco no mar.
Ainda esqueço e recordo,
Ainda não sou completo em minha ingenuidade,
Tantos exames, tanto sonho,
A corrupção do mundo é a verdade
E ainda não desisti de calar,
De representar e esconder,
A mágoa não é perceptível aos vossos olhos,
Só eu entendo o horrível
E o imenso desespero de ter os olhos rasos de lágrimas
Em ondas de mar que ouvem os segredos da noite escura.

O Meu Nome

Sempre tive, digo agora, medo
De me apresentar,
Dizer o meu nome,
A minha idade,
O que fiz ou o que faço,
Pois eu não sou eu senão o conjunto de coisas
Que me contém,
O meu nome é uma ficção invisível
Como oculta nos olhos de quem me olha,
Sempre tive medo de mim,
Há uma força ou energia que não decifro
Quando não sei responder o que sou,
Tantos sonhos, tão idiota fui,
Tantos braços a erguer-me na vitória
De me saber assim excluído de ser quem sou,
Não sou um nem o que escrevo está correto,
Pois poderia ser outras palavras,
Poderia ser personagem, cartoon,
A história de um príncipe sem trono,
Um louco sem esperança
Que grita convalescença,
Onde me leva o meu eu
Senão no colo adormecido
De alguém que me lembra,
Talvez esqueça,
Talvez eu vá acordar o sonho
E adeus a todos é apenas
O que desejo dizer na ambiguidade
De sociedade que sei que respira,
Que me abraça no eco de um lamento,
A emoção é a minha cruz de me saber
Vivo e presente
Em todos os que não me esquecem
E eu não esqueço ninguém,
Guardo todo o bem e também mal
E tento ser melhor que ontem
E o futuro repousa em meu nome
Tão meu como tão gasto
Na impaciência de o saber de alguém
Que o encontrar por acaso
Num atalho de vida,
Numa memória, num vão de escada
Ou na face de uma criança,
Guardem o momento,
O significado e o sinónimo
E noite e história ou desejo,
Murmúrio ou choro
Tal como eu faço todos os dias.

Assoprar de Letras

Resido no instante,
No assoprar de letras como uma viagem ao limite
Do belo ser uma folha de raiva,
A alvorada em que estendo os braços
E lanço o lamento de papel químico num fruto campestre,
Este começo é um desdizer como raio de sol
E tudo é um campo de jasmim nas bocas dos silêncios,
Nos teatros de figuração de textos,
Desespero de uma alma que requebra o incêndio de injustiça ser fome
E um palco é a plateia de cadeiras
Na imagética de nomes que são sentidos nos desaires de cada um,
Encerrarei o ultimo acto de caixão
Nas caras infelizes de lágrimas serem risos que roem
O sentir que valeu a pena morrer e ser infantil e
Nos enigmas deturpados ter a solução desigual que talvez é incerteza
E no câmbio do sossego encerro a minha plenitude de ser o que sou
E não vacilar em renascer no que só eu me permito apreender
No que fui e não souberam compreender,
A justiça é uma derrota e vencido grito aleluias
No piano das ilusões que renascem no vento do grito de Deus.

Arte de Escape

A arte de escape como furto 
Ou voo de mosquito na esplanada,
Orações e homilias e batinas de procissões,
Vi a poesia fluir num acenar à razão que morre sempre,
O conteúdo plástico nas antenas de suspeitar e faro, 
Sempre o faro nos narizes dos animais pressentindo perigo,
A emoção fria das imagens de odores de músculos que doem no ser alguém,
De ser algo que não se vê e a magia do corpo que retrai a alma
No vazio de angustia de história que repete
O teatro, a dança de momentos,
No infinito particular fiz uma chamada ao homem que tomava um café,
Delicadamente respondeu-me que silêncio é uma arritmia
E que oito horas de trabalho é a sua ciência,
Disse-lhe que a farmácia vende histórias de banda desenhada
E que eu significo mais que um quadrado,
Porque sei que o espelho é feito de olhos e pestanas que não sentem,
A arena é um espantalho defunto
E trago o meu semblante um pouco desiludido como a roupa de cama
Ou a colcha que não presta,
O colchão e nada aquece neste frio desiludido
Com tudo o que as horas dizem no significado de não me compreender.

A História Esquece

A maneira de acenar instável,
O meu condão de virtual desígnio lúcido,
Ténue em ambição,
Despi o enredo de mil cores num quadrado de memórias,
Coração de máscaras e lamentos,
Momentos que ouço o fluir de gestos,
Sou eu que venho lembrar que já me basta a indiferença,
Malmequeres nas janelas como o pólen desta vida exausta,
O fim tem a graça de ausências,
O ditado de escola sei-o de cor na complacência de um beijo demorado,
Carpindo acasos e costurando feridas,
Ainda a graça talvez justifique o que esqueci,
O mundo é um sonho breve, sufocante,
Não entendo, por vezes, o que custa um momento de pele,
Ternura de milénio,
A história esquece, arrefece,
Nem um café lembra a paixão de Cristo,
Ou a inocência de fome das crianças que morrem.

Manhã Clara

Trôpego, um pouco inconsciente, inconstante,
No ar um arrepio de chuva e um silêncio de escuro,
Caminho em movimentos estáticos, automático,
No pensamento fértil,
Noto que ainda não há o senhor que vende castanhas,
Sentir o cheiro tranquilizar-me-ia neste anonimato,
Em vésperas de sorrir desfraldo as emoções no corpo de instantes
Como é um voo de gaivota num leve ruborescer,
Nada é inquieto, apenas instável no momento de tocar o ambiente
Que ergue o som de relógio,
Tique-taque num ápice,
É Natal como senti o nervosismo de época de exames,
Nada me é indiferente e nada sinto,
Riso húmido e cores garridas que desmaiam,
Nocturno ou momentâneo, calculista, simbiótico,
O rapaz dos problemas e incógnitas,
São apenas sombras como corpos chineses
Na manhã clara de sentir.

Nuvem Alta

Ia a nuvem alta no corpo de nós
E, serenamente, um Sol de espelhos ateou uma chama de embaraços 
Como um alfabeto de mágoas e corpo de sons desonestos,
Um virtual velhinho e um copo de vinho,
Uma vela de barco que arrasto em sonhos
Na podridão de madrugadas imateriais e oblíquas sem nome,
Não desespero nem atiço o óbvio nem conto distracções de pianos toscos,
Hoje transmito tunas de fatos negros e folclores de olhos,
A janela é um objecto que faz caricaturas,
No processo de sentir desejo encontrei um cego que pedia imagens,
A noite está iluminada de sabores e transfusões,
Encontros no desalinhamento de desaire,
Há uma escada de cemitério,
Um rosto impaciente por nada,
Por depósito de ritmos e um arame de farpas
No momento que repouso,
No dia que demora,
As referências de cicatrizes e luzes.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Imagens de Alma

Fazer-te tema, assunto,
Dar-te cor, amor, emoção
Como criança que aprende a tabuada
Num pequeno pedaço de papel.
És assim, nada que sou
Nada que me sei,
Verso neutro de coração,
Ritmo cardíaco em cadência,
Exame que, aplicado, estudo
Para te saber.
És tudo aquilo que não sei,
E se desintegra na multidão,
A magia das probabilidades,
Porque não sei definições
E já tudo é a dor das ausências.
Que som tem o virar de página?
E qual o substantivo solar que me ocorre
Quando penso na tua face?
É tudo tão confuso,
O que me lembro
Ao fechar os olhos,
Ao dormir o teu corpo
Presente, ainda, neste noite
Que me atormenta,
Nestas imagens de alma,
Madrugada de memória.

Sentimentos

Descubro o que me é invisível,
A monotonia maníaca de vaguear.
Forma de estar como cálculo aritmético,
Quero mais e não sentir o que sinto.
Que resposta social têm para comigo
E este desprezo,
Angústia existencial de adolescente
Mecânico que guarda em si todo o mal estar
De uma vida inerte,
Toda a voracidade de embaraços,
O medo que é curriculum vitae de personalidade.
São lamentos escritos,
Gritos pungentes,
Cicatrizes lunares que queimam o que em mim arde.
A alma não consegue respirar,
Fumo espesso de ansiedades,
Contrariedades.
E quando penso não acho risos,
Apenas este jeito timido de recordar o que esqueço.
Vejo com olhos doentes, químicos,
Sentimentos escusos, absurdos,
Sentimentos abstratos.

Palavras Caras

Palavras caras não te servem,
És palavra tímida como flor, insecto, raiz, cruz,
És talvez nova linguagem,
Analfabeto de imagens que lê em meus olhos um sereno amanhecer.
Eu, eterno indecifrável,
Hieróglifo de noite impaciente,
Elemento místico, música e ritmo,
Alguma coisa de valor.
Vejo-te,
Toco-te, meigo, para te sentir perto.
És um livro de gestos.
Amanhã irei ler novamente
A emoção do que escrevi,
Descobrir nestas ténues palavras que compus,
Talvez um dia conseguir 
Tua alma ferida poder conhecer.

Abraçar

Tenho a vontade de tudo querer abraçar,
Todos os sonhos, angústias, a minha solidão,
Receio monstros de ilusão em minha testa febril, demente,
A noite é tudo o que quero esquecer,
Escavar buracos em letras passageiras,
Nela enterrar bem fundo o mistério das horas da noite
Perdidas em minha memória.
Minha mente é um embaraço,
O meu corpo uma caravela que se perdeu
Na escura, indefinida noite dos enganos,
Já me multipliquei, transportei, migrei
Em braços de morte,
Amei o que chora, chorei quem me amou
E consegui afogar mágoas em vestidos
Esvoaçantes numa corda de enforcados.

A Poesia

Perguntei a um mecânico se sabia o que era poesia.
Respondeu, veemente, que é o óleo, a gasolina de um automóvel.
Não contente, perguntei a um padeiro o que era poesia.
Disse-me que era o fermento, a farinha do pão de cada dia.
Perguntei, a medo, a um bibliotecário se os poemas têm prazo.
Ele não entendeu a pergunta e passou a outra pessoa.
Requisitei o livro, poesia séria.
Fui para o jardim, sentei-me concentrado e circunspecto.
Li folhas, letras, páginas inteiras, pensei, traduzi os versos, rimas, metáforas, o seu significado, o que me chamou à atenção.
Sei que a poesia é o belo e beleza não tem preço.
Fui para casa, deitei-me e o livro no pensamento.
Desfiz o livro em sono e letargia.
Quando acordei o livro estava no mesmo sítio
Só eu não era o mesmo.

Momento Parado

Amo-te a ti, gentil momento parado,
Neste rumor de palavras para te dizer que te
Amo-te a ti, neste exacto segundo de sedução,
Neste acto de gratidão.
Amo a sombra da janela, a estrela e a lua,
O dedilhar da harpa, o teu ventre, teu íntimo, teu fundo.
Gosto desta audácia, esta ambição de querer mais que palavras,
Ambiciono o silêncio de todas as madrugadas.
Olhar-te e não dizer nada.
És essencial e distante assim como caneta e papel,
Como imagem que busco em meu coração,
Ode a Deus, santidade,
Alma, pois o que sinto é mais grandioso
Que qualquer mensagem.

Suave Deslumbramento

No teu silencio há luz,
Há sorrisos,
Estátua indefinida sem movimento de tão belo o tempo a olhar-te,
Uma corsa, talvez réptil ou aranhiço,
A natureza imita-te,
Noite de bruxas,
Encenação,
És livro com palavras que dizem junto do meu ouvido
Tudo o que sonhei ouvir,
A estátua intocável do sonho,
Voam os anos,
O vento dos dias não se vêem,
A dor de te imaginar,
Garras da memória,
Suave deslumbramento o que sinto.

Dor de Pântano

Sempre a mesma lucidez irreal,
A luz aparente,
Encenação de cigarro na calada da noite,
Um miradouro sobre Lisboa,
Que perdição...
A forma lúcida das formas circulares de fumo na calada da noite ,
Um gemido aparente de dor
Neste jeito de gemer calado
A angústia do escuro pensamento circular,
É perpendicular na manhã que atravesso no sono
De minha vida.
Linhas escusas, serenas e toscas que não compreendo,
Maldito destino,
Desdizer de sonho,
Aprender a lição sem regras
A dor de pântano.

Ambição

Desejo a ambição de saber,
Conhecimento desmedido de alma que sofre,
A incerteza desta vida lenta,
Fico na calada da noite, 
Em memória e sinais,
Fico indistinto na dúvida,
Na incompreensão e incerteza
De ter tempo contado como segredo e degredo
Na palma de minhas mãos.

O Espelho

O espelho deformou o reflexo
E os olhos que vi no momento que olhei
Eram os meus,
Toco ao de leve a imagem,
O contorno do olhar, o seu jeito,
Mansidão que contempla o vazio do ser,
Olhos calmos que no espelho de alma
É a maneira de dizer que te amo.

Nós Mesmos

Começar por te dizer,
Assim,
Nesta maneira de apaziguar esta solidão,
Somos apenas pessoas sós parecendo felizes.
Somos nós mesmos,
Sós,
Partilhamos ambições e sentimentos,
Adormecemos acompanhados e vazios.
Damos as mãos,
Acariciando os dedos ao de leve,
Sufocamos a paz,
A tua mão é a fronteira de felicidade
Nas linhas que reconheço da palma de destino
Como rede impressa na tua mão.
A linha da vida de tua mão na minha,
És real.
O coração bate certo
Por entre as artérias de meus sentidos.
És minha definição,
O que quero dizer e sentir
Neste momento de emoção
De te olhar e te saber minha.
Habitamos rituais despidos,
Habitamos amanhãs de incertezas.
Tantos enganos,
Tantos amanhãs no calendário de todos os dias.
És o meu verso de prosa e alegria,
Ontem sonhei-te,
Acordei a realidade
E despedimo-nos de nós na inocência,
Na incoerência,
Na virtude
No pecado de desejo,
Meu delírio de amar o Universo,
A tua nudez,
Presságio de te bem querer para sempre.

Mendigo de Imagem

Tantos anos como indiferença de dias planos,
As lágrimas brotam de uma fonte de desejos ,
Flores ao vento e pensamento,
Há muito que sou estátua de jardim,
Pessoas e crianças passam por mim
Felizes por se acharem na alegria comum,
A lágrima do sentir é ténue,
Desdobrável, folhas de livros de pétalas,
Vou desculpando a vida,
Apago uma estrela e ando em frente ao abismo,
A calma de ser só eu,
Múltiplo de nós,
Com sonhos e cabeças flutuantes.
As desculpas inventam perdões,
Sou mendigo de imagem
E quase evito sorrir
Ao espelho de Alice,
Tento apagar números e subtracções e câmbios
Do infinito,
Nada é substituto de si mesmo.

Noite Escura

Foi isto a maneira exacta de momento parado,
A cabeça move-se em sintonia em corpos dispersos,
Semente de ócio e tardes lentas
Onde cansaço é vida e vida é uma paleta de cores já secas no retrato de meia noite,
Se escrevo o retrocesso vejo o mundo em progresso
E eu estagno em dor.
Andei muito, tão intenso,
O coração extenso e a solidão um barco no mar.
Ainda esqueço e recordo,
Ainda não sou completo em minha ingenuidade,
Tantos exames, tanto sonho,
A corrupção do mundo é a verdade
E ainda não desisti de calar,
De representar e esconder,
A mágoa não é perceptível aos vossos olhos,
Só eu entendo o horrível
E o imenso desespero de ter os olhos rasos de lágrimas
Em ondas de mar que ouvem os segredos da noite escura.

Ser Forte

Tenho de lutar, ser forte,
Se a fraqueza sempre me acompanhou,
É dolorida a lembrança da injustiça
Que nunca me abraçou,
Nuca me valorizou,
Nunca.
Sopro os amanhãs numa vela que arde
Como minha alma,
O coro de carrascos e criança
E punhais e a destreza de choro calado
Que geme a incerteza.
Não pertenço aqui, sou mais que isto,
Sou mais que danças, sou mais que letras,
Sou mais que ambição, mais que doença,
Sou tanto e sou pouco,
Sou o que construí, o que semeei,
O que me deixaram foi talvez os sinónimos,
Os versos que, cansado, canto
E sei que não sou quem sou.

No Ar.

No ar, ainda com uma certa humidade e frio,
Respirava-se o bom senso 
E as intrigas dissipavam-se na geada das plantas,
Fiquei preso no tempo como discurso maníaco de ansiedades
Como um voo de andorinhas ou andar distante dos animais que rastejam,
Fui cumprimentar o senhor que me sorriu,
Fui abraçar o momento,
Despi-me na mão que apertou a outra mão,
Ainda cansado desta vida revi o colo que aconchega,
A transferência de sentidos
E um afecto que digeri num café,
Estou alerta para o ritmo,
Há uma orquestra nos meus dedos e em minha alma,
Sonhos de amor e uma letargia de pressentir o que acontecerá
E o que já foi
E o som da indiferença
Que é já uma rotina
Quando personifico a energia de calor
Ou o sabor de derrota
Na impaciência da palavra
Que surge como emprestada de um tempo que se avizinha.

O Silêncio

Tarde, relógio da emoção no pulso sem vida,
Senti desânimo na minha face de desinteresse,
Li os jornais como fotocópias de árvores que morrem doentes 
Na ânsia de esperar,
Rompi o silêncio mesmo sem proferir uma palavra,
Olhos, demagogia de sono e trevas em pedras,
Há uma saliência e um perfume de um livro,
Um andar cansado e vértebras encurvadas na calada da noite mórbida
Que chora o regresso de D. Sebastião,
Geme a sua solidão
Em que habito na morada demorada,
Sopra um vento desordenado de letras de penugem,
Esta maneira embriagada de esconder a luz,
De fugir de nada,
Alcançar movimentos descoordenados
E máquinas que ruminam paciências
No escuro,
Vou pregar mais um canto,
Mais um susto e dormir,
Letárgico, no sono eterno de amor.

O Meu Eu

Sempre tive, digo agora, medo
De me apresentar,
Dizer o meu nome,
A minha idade,
O que fiz ou o que faço,
Pois eu não sou eu senão o conjunto de coisas
Que me contém,
O meu nome é uma ficção invisível
Como oculta nos olhos de quem me olha,
Sempre tive medo de mim,
Há uma força ou energia que não decifro
Quando não sei responder o que sou,
Tantos sonhos, tão idiota fui,
Tantos braços a erguer-me na vitória
De me saber assim excluído de ser quem sou,
Não sou um nem o que escrevo está correto,
Pois poderia ser outras palavras,
Poderia ser personagem, cartoon,
A história de um príncipe sem trono,
Um louco sem esperança
Que grita convalescença,
Onde me leva o meu eu
Senão no colo adormecido
De alguém que me lembra,
Talvez esqueça,
Talvez eu vá acordar o sonho
E adeus a todos é apenas
O que desejo dizer na ambiguidade
De sociedade que sei que respira,
Que me abraça no eco de um lamento,
A emoção é a minha cruz de me saber
Vivo e presente
Em todos os que não me esquecem
E eu não esqueço ninguém,
Guardo todo o bem e também mal
E tento ser melhor que ontem
E o futuro repousa em meu nome
Tão meu como tão gasto
Na impaciência de o saber de alguém
Que o encontrar por acaso
Num atalho de vida,
Numa memória, num vão de escada
Ou na face de uma criança,
Guardem o momento,
O significado e o sinónimo
E noite e história ou desejo,
Murmúrio ou choro
Tal como eu faço todos os dias.

Pranto

Engraçado este jeito de melancolia como pranto,
Como serenar de alma 
Ou luz azul num corpo que dói,
Trágico punhal de madrugada cinzenta,
Arrasta o movimento e as vozes nas árvores de cal,
Num dia vi o castelo arder,
Vi o limite e o canto,
A festa de sabores da carne,
A luz é um instrumento de tortura
E permaneço apagado no instante de lucidez,
Na majestade.
Grito a paz e o conceito,
A tarde que enterro os pés no lume
Que aceno um segundo como riscar de fósforo,
A impotência de liberdade nesta droga de convalescença,
O fascínio morreu como cruz
E já não interessa o riso ou o que entra ou o que sai
De mim,
De meu corpo bonecos de alma
Que transpira imagens
E amaina o navio como pavio de vela
Na cama desatada,
Na televisão enlatada,
No império de sentidos e pecados,
Nas cadeiras de veludo,
Os nomes são uma circunferência ao trágico momento
Que faço de conta como julgamento
Que não decido,
Não voto e emudeço ao verso,
Ao soco do momento intruso
E escapo com vida,
Impune como mundo que gira,
Como papel de actor que morre em cena,
Na cidade de vento e sons e um suspiro de gramática
Que gesticula ditados e ditongos angulares de transcendência e sublime.

Acordar dos Sentidos

Como é mágico o acordar dos sentidos,
Abrem-se os olhos na penumbra de noite e nascer de Sol,
A subjectividade do crânio e o sonho que morde o espelho cansado de imagens,
A certeza que posso ser feliz e uma nuvem treme de dor,
De tudo o que vi um mistério ou enigma, 
A manhã abre-se em flor na saia de uma rapariga que morde conceitos,
E sei que não torno a viver,
Sei o meu fado cansado,
Sei-o de cor e sei as silabas
De poema que se transforma nas horas,
Instantes de pensamento que dou, inocentemente,
Ao leitor para ler o sistema de regras,
A escura e imagética linguagem de olhos que coçam as palavras
Como formigas de enredo,
Trabalham incansáveis carregando a sabedoria de esperança,
Tal como os pássaros cantam e os ratos fogem,
A poesia é mais que verso ou conteúdo ou significado,
É um conjunto de um ser dois e dois ser mais que tudo.
Ninguém traduz o olhar doente de um animal,
A escada de flores e a maldade de acidente
Provocado na marginal face de perdão que carrego
No decorrer de uma eternidade.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Respiração

Ontem talvez sonhasse que hoje não se repetiria,
A manhã louca de me erguer derrotado, vencido,
A indiferença da hora, da calma,
Que faço eu aqui somente eu espelho de virtudes e interrogações
Esparso e sonâmbulo,
Arrastando símbolos, resolvendo equações,
E ouço canções,
Ouço canções de repetições,
A melodia na voz de um cantor,
Sugere, um timbre de sonho,
A irrealidade teatro das sombras em contraluz,
A velocidade é slow-motion,
Quando olho uma pomba voa,
Quando sufoco o que sinto um reclame chama a atenção,
Tragicamente esforço a psicologia das palavras,
Articulo o pensar em metafísica de qualquer coisa que respira nestas frases nuas,
A pele dos dias,
A ignorância da miragem,
A estátua que repousa em mim.

Imortalidade

Não me conformo,
A impaciência através de um copo transparente,
Vazio de imagens, cor,
É urgente o vício
De mil horas
Num cronómetro
Descompassado,
Corrida, planície,
Corro e não ando,
Estático no meu pensar,
Atropelo o real do eu,
Só eu me sei,
Todos somos o que ocultamos,
Pois o pensamento não tem som.
Talvez alimentamos electrodomésticos
E esquecemos de pensar,
Talvez haja a fuga à liberdade,
Somos o que não queremos,
Talvez autómatos,
Talvez o sonho é o alimento da alma
E morreremos até na ambição da imortalidade da alma.

Realidade, Um Segundo

De um copo de maresia se faz poesia,
O delicado ardor, embriagues e doçura,
As luzes ficam turvas como passos alcoolizados 
Na madrugada de regresso ao leito que nos espera.
É lenta esta agonia maníaca de minha alma
Errante em busca de limites na imensidão de sombras.
Não deixo o encontro de ansiedades me detenha,
São todos estes dias como vertigem de enganos no céu azul, intenso.
A tua honestidade e desembaraço despi anos atrás nesta memória de calma,
Descalcei a emoção, fiquei descalço, nulo.
Andei muitos anos, procurei a sanidade entre barulhos,
Sons toscos de uma vitrola num quarto de cidade,
A mulher desce timidamente a saia,
Arranjando-se, alindando-se,
Embaraçada por olhares dos homens já de voz solta
Nas mãos com uma garrafa de cerveja.
Quando desci as escadas do vício,
A realidade foi um segundo apenas,
Um luto ou um traje.

Um dia

O exame de luz,
A radiografia do olhar na penumbra da noite
Fez cem anos, neste momento, na minha mente
E é uma imagem parada o cinema da memória sagrada.
No mundo há uma mão segurando uma flor
Neste câmbio de amor que seguro e entrego desfolhando 
A indefinida estação de amor no ritual cego
Que acompanho nesta carência de palavras de não sobrar nada,
Apenas as pétalas perfumadas no cálido beijo 
Que deixo a quem quiser colher esta flor
Que irradia do meu peito.
Confesso a impertinência, o que julgo ou o que me dão,
Por vezes não é suficiente estes cem anos,
Acho que um dia chegava para ser feliz,
Acreditem que um dia é imenso na minha vida.

Ambições

Respondi nestas frases o indizível de minhas mãos nuas,
A resposta de neves na aurora de dia que nasce em ternura de leve acordar,
Desci ao passado, lamentei-me de indiferenças,
É tão vago o sono e a mágoa,
Assoei-me num lenço, tranquilizei-me e pedi um café,
Desci mais degraus de recordações sonâmbolas, díspares,
Aumentei o meu dia de olhos na penumbra de amanhãs entre portas,
Olhares neutros de multidão que espera,
Já a chuva é um sentimento,
Os meus amigos estão num convés de barco
Atrás do sonho a que tudo resiste,
Sim, estou só e caminho só,
Acho melhor assim este desprendimento,
Esta glória de nada sentir
Como vento da manhã agitando os ramos às árvores toscas,
Fumo cigarros despidos, a nicotina acalma,
Deixei as noites penduradas em relógios na cama que tudo esquece,
Meu coração é uma pétala de algodão,
Uma nuvem, um lamento, uma ilusão,
É um dia de Natal em que desenho na janela o meu nome,
Através dos tempos não vi mais que um arrastar,
Um acenar sombrio, uma estátua de melodias na pauta de música da minha vida tão frágil,
A originalidade há muito está gasta numa engrenagem sem o maquinal condão de emocionar,
Estou parado,
Sou um rato, um bicho qualquer,
O que quiserem,
As definições já nada revelam,
A palavra está morta,
É um retalho de circular em contra-mão,
Um afago que se gosta como espelho de tudo o que poderiamos ser
Como se não olhássemos por dentro das nossas ambições já defuntas.